quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Encarte 2 - 8 Plano de Manejo

I - Sítio 01 (Sítio Planalto)
Nas amostragens dos pontos definidos para esse sítio, foram registradas espécies de aves que apresentam hábitos mais generalistas, dentre outras, as citadas a seguir: Piaya cayana (alma-de-gato), Veniliornis spilogaster (pica-pau-verde-barrado), Sittasomus griseicapillus (arapaçu-verde), Cranioleuca obsoleta (arredio-olivaceo), Thamnophilus caerulescens (choca-da-mata), Syndactila rufosuperciliata (trepador-da-taquara), Heliobletus contaminatus (trepadorzinho), Trichothraupis melanops (tiê-de-topete), Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira), Stephanoxis lalandi (beija-flor-de-penacho), Conopophaga lineata (risadinha), Poospiza lateralis (quete), Camptostoma obsoletum (chupa-dente) Cacicus chrysopterus (tecelão) e Lepthastenura setaria (grimpeirinho), essa última com associação direta com Araucaria angustifolia (pinheiro).

II - Sítio 02 (Sítio Encostas)
Neste sítio, merece destaque o registro de espécies ameaçadas, como Leucopternis lacernulata (gavião-pombo-pequeno) e Trichlaria malachitacea (sabiá-cica). Outras espécies registradas foram: Micrastur ruficollis (gavião-caburé), Micrastur semitorquatus (gavião-relógio), Spizaetus tyrannus (gavião-pega-macaco), Otus choliba (corujinha-sapo), Ramphastos dicolorus (tucano-de-bico-verde), Penelope obscura (jacu-guaçu), Trogon rufus (surucuá-de-barriga-amarela), Chamaeza campanissona (tovaca-campainha), Celeus flavescens (pica-pau-joão-velho), Xiphocolaptes albicollis (arapaçu-grande), Dendrocolaptes platyrostris (arapaçu-de-garganta-branca) Sclerurus scansor, (vira-folhas), Chamaeza campanissona (tovaca-campainha), Chiroxiphia caudata (tangará) e Schiffornis virescens (flautim).

III - Sítio 03 (Sítio Planície)
Devido ao intenso grau de alteração, predominam ai espécies sinantrópicas, com destaque para Carcara plancus (gavião-carrancho), Furnarius rufus (joão-de-barro), Vanellus chilensis (quero-quero), Sicalis flaveola (canário-da-terra) Carduelis magellanicus (pintassilgo), Synallaxis ruficapilla (joão-tenenem), Synallaxis spixi (benterere) observadas nas áreas abertas e capoeirinhas. Em áreas cobertas de capoeiras, Crypturellus tataupa (nhambu-xintã), Rupornis magnirostris (gavião-carijó) Leptotila rufaxila (juriti), Thalurania glaucopis (beija-flor-de-fronte-violeta), Colaptes melanochloris (pica-pau-verde-barrado), Thamnophilus ruficapillus, (choca-de-corôa-castanha), Phylloscartes ventralis (borboletinha-da-mata), Saltator similis (trinca-ferro), Cyclarhys gujanensis (pitiguari), Basileuterus culicivorus (pula-pula-assobiador), Turdus amaurochalinus (sabiá-poca) e Zonotrichia capensis (tico-tico). As margens do rio Vermelho e do rio Natal que cortam esse sítio, a ocorrência de Megaceryle torquata (martim-pescador-grande), Chloroceryle amazona (martim-pescador-médio) e C. americana (martim-pescador-pequeno) que utilizam a vegetação das margens de rios para espreita de pequenos peixes e girinos que se constituem em sua dieta alimentar básica. Além destas, Aramides saracura (saracura) e A. cajanea (saracura-três-potes) que foram constatadas por registros auditivos.

1.2.2.2.8. Espécies relevantes à conservação

Espécies ameaçadas
Para a área da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold ocorrem espécies ameaçadas em nível nacional de acordo com MMA (2003). Também ocorrem espécies regionalmente ameaçadas, ou seja, espécies que não constam na lista oficial (MMA, 2003), mas que apresentam status de ameaçadas para a região. Devido ao fato do estado de Santa Catarina não apresentar uma lista de espécies ameaçadas, utilizou-se a lista de fauna ameaçada do Paraná (MIKICH e BÉRNILS, 2004) como referência de citação das espécies ameaçadas regionalmente, levando-se em consideração que o município de São Bento do Sul está localizado na porção norte do estado de Santa Catarina e faz divisa direta com o estado do Paraná.

Dentre as espécies ameaçadas em nível nacional e regional se destacam as descritas a seguir.

a) Leucopternis lacernulatus (gavião-pombo-pequeno): habita a vertente atlântica da Serra do Mar, nas florestas abaixo de 500 m de altitude (SICK, 1997). Consta na lista brasileira de espécies ameaçadas (MMA, 2003) sem definição de status. Um indivíduo dessa espécie impossibilitado de voar foi encontrado na área da APA no ano de 2009 nas proximidades do Parque das Aves do Rio Natal.

b) Pipile jacutinga (jacutinga): na Serra do Mar, habita áreas de encostas, deslocando-se altitudinalmente (SICK, 1997). Não foi registrada em campo, mas é grande a probabilidade de ocorrência na área da APA devido às características ambientais e de relevo da área.

c) Trichlaria malachitacea (sabiá-cica): espécie considerada para o Paraná como ameaçada com status de vulnerável (MICKICH e BÉRNILS, 2004). Registrado para a área no ponto 03 durante os trabalhos de campo.

d) Conopophaga melanops (cuspidor-de-mascara-preta): presente na lista do Paraná (MICKICH e BÉRNILS, 2004), registrada no ponto 09, durante os trabalhos de campo.

e) Leucopternis polionotus (gavião-pombo-grande): para o estado do Paraná é considerada quase ameaçada (MICKICH e BÉRNILS, 2004). Essa espécie foi registrada em várias oportunidades no município de Rio Negrinho numa área de transição entre Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Mista (SEGER e HÜBEL, 2005).

f) Percnohierax leucorrhous (gavião-de-sobre-branco): consta na lista de espécies ameaçadas do Paraná (MICKICH e BÉRNILS, 2004), com o status de insuficientemente conhecida. Para Santa Catarina apresenta provavelmente o mesmo status. Foi registrado por contato visual durante os trabalhos de campo no ponto 02 (Sítio Planalto).

g) Accipiter poliogaster (tauató-pintado): presente na lista de espécies ameaçadas do Paraná (MICKICH e BÉRNILS, 2004) com o status de insuficientemente conhecida. Registrada para a região no município de Rio Negrinho (SEGER e HÜBEL, 2005).

h) Accipiter superciliosus (gavião-miudinho): indicado na lista de espécies ameaçadas do Paraná (MICKICH e BÉRNILS, 2004) com o status de insuficientemente conhecida. Espécie registrada por Seger e Hübel (2005) em Rio Negrinho.

i) Asyo stygius (mocho-diabo): consta na lista de espécies ameaçadas do Paraná (MICKICH e BÉRNILS, 2004) com o status de insuficientemente conhecida. Registrado para a região Norte catarinense por Seger (1992).

j) Piranga flava (sanhaçu-fogo): citada na lista paranaense de espécies ameaçadas com o status de quase ameaçada (MICKICH e BÉRNILS, 2004). Registrada por Seger e Hübel (2005) em Rio Negrinho.

k) Pyroderus scutatus (pavó): maior ave da ordem Passeriformes é considerado também como quase ameaçado para ao Paraná de acordo com (MICKICH e BÉRNILS, 2004).

Espécies endêmicas
Para a definição de endemismos, adotou-se aqui o trabalho de Stotz et al. (1996) que define as áreas de ocorrência das espécies de aves do Neotrópico. A área da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold encontra-se segundo os referidos autores situada na região Zoogeográfica denominada de Floresta Atlântica, abrangendo o grande bioma Floresta Atlântica que envolve a Floresta Ombrófila Densa, a Floresta Ombrófila Mista e a Floresta Estacional Semidecidual. Nessa região os autores apontaram um total de 199 espécies endêmicas, sendo que 43 desse total podem ser encontradas na área de estudo, as quais são apresentadas na Tabela 2. Embora Stotz et. al. (1996) tenham citado todos as espécies da Tabela 2 como endêmicas do grande bioma Floresta Atlântica, Bornshein e Reinert (2000), desconsideraram algumas delas, tendo em vista que essas espécies (marcadas com asterisco *) terem sido registradas em outros biomas do país, fora do domínio da Floresta Atlântica.

Espécies migratórias
Com relação a espécies consideradas como tipicamente migratórias, ou seja, que não nidificam na área, mas que, aparecem apenas durante o período de invernada na região (representantes da ordem dos Charadriformes), não foram identificadas para a área, o que, no entanto, não significa que não ocorram, sendo que o registro dessas poderá ocorrer com estudos mais aprofundados.

Quanto às espécies denominadas por Sick (1997) como residentes de verão (que na primavera e verão nidificam na área e durante o inverno migram para outras regiões do continente sul-americano) diferentes espécies ocorrem na área. São exemplos de espécies típicas deste comportamento: Tyrannus savana (tesourinha), Tyrannus melancholicus (siriri), Vireo chivi (juruviara), Myiarchus swainsonii (irrê) e Legatus leucophaius (bem-te-vi-pirata), entre outras. Na área da APA também foi constatada a presença de migrantes altitudinais, tais como: Carpornis cuculatus (coroxoxó) e Melanotrochilus fuscus (beija-flor-preto-e-branco).

  1. Lista de espécies endêmicas do Bioma Floresta Atlântica encontradas para a área da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold
TAXON
NOME POPULAR
Leucopternis lacernulata
gavião-pombo-pequeno
Leucopternis polionota
gavião-pombo-grande
Oodontophorus capueira
uru
Aramides saracura
saracura-do-mato
Pyrrhura frontalis
tiriva-de-testa-vermelha
Otus atricapillus
corujinha-sapo
Phaethornis eurynome
rabo-branco-de-cabeça-rajada
Florisugs fusca
beija-flor-preto-de-rabo-branco
Thalurania glaucopis
beija-flor-de-fronte violeta
Ramphastos dicolorus
tucano-de-bico-verde
Melanerpes flavifrons *
benedito-de-testa -amarela
Veniliornis spilogaster *
pica-pau-carijó
Campephilus robustus
pica-pau-rei
Hypoedaleus guttatus
chocão-carijó
Mackenziaena severa
borralhada-preta
Myrmotherula unicolor
choquinha
Drymophila squamata
pintadinho
Pyriglena leucoptera
papa-taoca
Conopophaga melanops
cuspidor-de-mascara-preta
Conopophaga lineata *
chupa-dente
Synallaxis ruficapilla
joão-tenenem
Philydor lichtensteini *
limpa-folhas-ocraceo
Philydor atricapillus
limpa-folhas-de-corôa
Automolus leucophthalmus*
barranqueiro-de-bico-branco
Cichlocolaptes leucophrus
trepador-de-sobrancelha-branca
Sclerurus scansor *
vira-folha
Dendrocincla turdina
arapaçu turdina
Lepidocolaptes fuscus
arapaçu-rajado
Myiornis auricularis
miudinho
Muscipripa vetula
tesoura-cinzenta
Atilla rufus
capitão-de-saíra
Chiroxiphia caudata
tangará-dançador
Pyroderus scutatus
pavó
Procnias nudicollis
araponga
Cyanocorax caeruleus
gralha-azul
Hylophilus poicilotis
verdinho-coroado
Hemithraupis ruficapilla
cabecinha-enferrujada
Tachyphonus coronatus *
tié-preto
Tangara seledon
saíra-sete-cores
Tangara cyanocephala
saíra-militar
Tangara peruviana
saíra-sapucaia
Haplospiza unicolor
cigarra-bambu
Pytilus fuliginosus
bico-de-pimenta
Fonte de dados; Stotz et al. (1996)

Pressões e ameaças sobre a avifauna
O diagnóstico da avifauna na área da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold revelou que existem diferentes tipos de pressões sobre a comunidade de aves dessa UC, pressões essas que o gerenciamento da APA pode amenizar de forma a contribuir no manejo da unidade.

As principais pressões sobre a avifauna são:

I - Alterações e degradação de habitats de interesse: refere-se às áreas de estepes, submetidas à extração mineral (caulim), onde ocorre degradação ambiental pela retirada da capa superficial do solo e a conseqüente eliminação de habitats de espécies de aves típicas de estepes. Em algumas situações as áreas de mineração desativadas foram abandonadas sem serem submetidas a qualquer processo de recuperação ambiental.

II - Substituição de vegetação nativa por exótica: em determinadas partes da APA está ocorrendo o avanço dos povoamentos de pinus, principalmente no sítio 01 que abrange a área de planalto da APA. As poucas áreas de estepes que ainda restam vêm sendo gradativamente substituídas por plantios de pinus, acontecendo também com áreas que eram até pouco tempo utilizadas para agricultura. O pinus, como já comentado anteriormente, não propicia a atração e nem ocupação da avifauna.

III - Dispersão de pinus em áreas com vegetação nativa: a presença de extensas plantações de pinus tem provocado a dispersão de sementes desta espécie exótica para espaços adjacentes, o que poderá ocasionar a propagação e a competição com espécies vegetais nativas.

IV - Contaminação e poluição da água: a contaminação e poluição de cursos de água que cortam toda a área da APA vêm sendo causadas tanto por despejos de esgotos domésticos (comunidade do rio Vermelho) como pelo carreamento de sedimentos de minas de caulim em atividade ou abandonadas. Esta ação poderá interferir na cadeia alimentar de algumas espécies de hábitos aquáticos e semi-aquáticos, sem se saber, no entanto, quais os efeitos em longo prazo.

V - Pressão cinegética: embora não constatada, pelo menos até onde foi possível durante os trabalhos de campo, essa prática certamente ainda ocorre dentro dos limites da APA, de acordo com informações obtidas de moradores locais. Entre as aves consideradas como de maior potencial cinegético, encontram-se Crypturellus spp. (nhambus) e Penelope spp. (jacus).

VI - Captura de aves para comércio ou cativeiro: outra atividade que também não foi constatada durante as atividades de campo, mas que ocorre de acordo com informações de moradores locais é a captura de aves para cativeiro. Dentre diferentes espécies, as aves canoras constituem-se no principal alvo.

VII - Turismo de massa sem controle: outro fator de pressão sobre a avifauna local é o turismo sem controle. O grande afluxo e concentração de pessoas em determinados espaços com vocação recreativa interfere no comportamento das aves, com aumento do nível de estresse e interferências em sítios reprodutivos de diferentes espécies.

1.2.2.3. Conclusões


Pelo presente estudo pôde-se avaliar amplamente o nível de conservação de toda a área da APA Municipal do Rio Vermelho/Humbold e seu entorno, o que possibilitou a caracterização da avifauna para a mesma.

De acordo com os resultados do diagnóstico, constatou-se que toda a área da APA já sofreu intervenções humanas, com muitos locais descaracterizados de sua paisagem original. Porém, ainda existem no interior da APA espaços relativamente conservados, cobertos por vegetação secundária em estágio mais avançado que propicia a manutenção de grande diversidade de aves. Este fato faz com que esta UC municipal seja considerada como uma área de relevante importância para a preservação da avifauna da região, por se constituir numa das poucas áreas cobertas com vegetação nativa que apresentam tais características. Por se tratar de uma área com a presença de maciços florestais associada ao fato de grande parte da avifauna brasileira apresentar hábito silvícola (SICK, 1997), a conservação dessa área tem grande importância para a manutenção da avifauna regional.