sábado, 21 de setembro de 2013

História de São Bento do Sul - 23 de setembro de 2013 - 140 anos

São Bento do Sul

É certo que a história de São Bento do Sul, a primeira cidade do Planalto Norte Catarinense, colonizada maciçamente pelos imigrantes, é marco de grandes histórias na epopeia destes heróis que aqui chegaram, sendo de relevante conhecimento e motivo de orgulho ostentado com louvor, pela inegável importância e influência cultural, e pelo marcante desenvolvimento econômico que gerou, além de ampla e ramificada genealogia. Entretanto na ordem que sucedem os fatos não poderia passar obsoleto este triunfo, retratando assim alguns comentários referentes à época.
De fato a terra gerou o orgulho pelo qual seus descendentes zelam. Mas os encantos sonhos áureos destes imigrantes tiveram que ser lapidados diversas vezes para que os desejos se tornassem próspera realidade.
Primeiramente para propiciar conhecimento da área e planejar a colonização no Planalto Norte Catarinense o engenheiro Augusto Wunderwaldt e sua equipe abriam as primeiras picadas com finalidade de estabelecer o traçado de uma estrada, a então Dona Francisca, que saia de Joinville passando pela serra, chegando no planalto, outros trabalhos também foram seguidos pelo engenheiro Carl Pabs. Já o Engenheiro Augusto Heeren foi designado pelo diretor Niemeyer a estabelecer os primeiros lotes, abrindo as picadas, e demarcando-os.
As propagandas da Sociedade Colonizadora de Hamburgo ocorrem no Böhmerwald e se espalham, oferecendo a venda de tentadoras terras produtivas. Vistas certamente como uma oportunidade única. Grande parte dos imigrantes que aqui chegaram viviam em feudos, trabalhando e produzindo na terra de outros. O sonho de ter sua própria propriedade era tentador. Imaginava-se que aqui encontrariam semelhanças da floresta, clima, terra e a oportunidade de prosperar.
Então partem da Europa diversos imigrantes e navios. O primeiro com grande importância para o Planalto Norte certamente é o Guttemberg, mas outros ainda viriam. “A bordo do navio de vela “Sansibar”, um navio de dois mastros com que se fizeram a vela aos 18 de junho de 1873, achavam-se pouco mais ou menos 170 imigrantes, na maioria “teuto-bohemios”. (AMMON,1923), os primeiros imigrantes de São Bento chegaram em Joinville, quando em 1873 já somavam aproximadamente 1700 imigrantes.
No mesmo ano em Joinville destinam 70 imigrantes para então subirem a serra, e no planalto formar a futura cidade de São Bento. Mas nas primeiras três semanas alguns homens ajudaram na construção da Estrada Dona Francisca. Que já estava em construção por cerca de 12 anos, embora a Guerra do Paraguai paralisou a obra em até 5 anos, quando os trabalhos finalmente retornam as atividades em 1870.
Algumas preocupações foram eminentemente despertadas, pelas diferenças e novidades do novo continente, causando espanto a floresta densa, e o perigo dos índios Xokleng, então chamados de bugres, ou ainda de animais peçonhentos, como as serpentes.
Os primeiros imigrantes, que estavam empenhados na estrada, finalmente chegaram no Planalto Norte Catarinense, na localidade atual de São Bento do Sul, no dia 10 de novembro, desmataram e prepararam o solo para produção agrícola. Constroem ao total 10 casas, para confortar suas famílias. Os trabalhos eram todos feitos no sistema “team-work”, uma ação coletiva onde todos se ajudavam e faziam o trabalho render, e aproveitar as habilidades de cada um. Os imigrantes então retornam para Joinville buscar as famílias e pertences pessoais, e com auxílio das tropas de mulas dos tropeiros descendentes de portugueses, espanhóis e outros, sobem a penosa serra com as cangalhas das mulas carregadas com variados materiais e pertences pessoais.
“Consta no diário do Engenheiro Heeren que sete mulas levavam sete “cargueiros” de mantimentos, sendo seis sacos de farinha, três de feijão seis arrobas de carne e três de toucinho, duas arrobas de açúcar e uma arroba de café. Outras três bestas levavam, além de sacos com sal, panelas e apetrechos de cozinha, grande quantidade de pregos para ripas de telhado, 18 ferramentas, dobradiças para portas e janela, vidro plano para as janelas da casa da direção, além de mais alguns sacos de farinha, carne seca e café.” (TERNES, 2002).
Deixaram para traz, na Europa, uma floresta consideravelmente homogênea e de “pouca riqueza”, sendo compreensivo a dificuldade destes em entender a biodiversidade que encontraram no Brasil, ainda que para aquele primeiro momento importava o interesse de produtividade. Alguns livros já publicados relatam que a mata era relativamente assustadora, de tal modo que estes com pouca sorte se perdiam com facilidade. Também apresentavam dificuldade em encontrar a caça.

É louvável a lembrança deste 70 primeiros e esperançosos imigrantes, mas devemos nos voltar a atenção e respeito aos tantos outros que aqui chegaram. Após um ano dos primeiros imigrantes, portanto em 1874, já haviam em São Bento 50 famílias e uma população de 310 pessoas. O povoado vai despertando para o progresso desta terra, e em contínuos e sucessivos anos tantos outros ainda chegaram e somaram valorosa contribuição, seja pela chegada dos numerosos navios ou por viagens em terra provindas de distintas regiões e que aqui somaram considerável influência.
Em relação a estruturação urbana de São Bento alguns fatos são curiosos e interessantes, conforme relatado por  Wolfgang Ammon, no seu livro Crônica do Município de São Bento Desde a Fundação 1873 até 1923. A estrada de Wunderwaldt seguia para Rio Negro, estando a vila de São Bento muito distanciada desta linha principal. “Também o terreno da futura cidade de São Bento era o mais desfavorável possível, pois compunha-se de colinas desfiladeiros e um tanto de banhado: ainda hoje não há, em toda colônia e seus arredores, nenhum terreno mais ou menos plano por natureza. Foi necessário criar penosamente a superfície aplainada para o jardim publico, para todos as casa e chalets e todas as ruas por meio de aplainamento e aterros. A situação desfavorável da colina adiantou a criação, o argumento dos pequenos lugares de lençol (Reichenberg) Oxford, Mato Preto, Campo Alegre, etc., e impediu a concentração do movimento na vila de São Bento. Infelizmente a estação foi construída muito distante da sede apesar dos protestos do povo e da autoridade municipal. Assim a vila de São Bento foi prejudicada pela segunda vez..”(AMMON, 1923). Lembrando porém que a construção da estrada de ferro está cronologicamente mais avançada em relação a continuidade deste livro.

Fonte: Marcelo Hübel - Livro Pioneiros