É certo que a história de São Bento do Sul, a
primeira cidade do Planalto Norte Catarinense, colonizada maciçamente pelos
imigrantes, é marco de grandes histórias na epopeia destes heróis que aqui
chegaram, sendo de relevante conhecimento e motivo de orgulho ostentado com
louvor, pela inegável importância e influência cultural, e pelo marcante
desenvolvimento econômico que gerou, além de ampla e ramificada genealogia.
Entretanto na ordem que sucedem os fatos não poderia passar obsoleto este
triunfo, retratando assim alguns comentários referentes à época.
De fato a terra gerou o
orgulho pelo qual seus descendentes zelam. Mas os encantos sonhos áureos destes
imigrantes tiveram que ser lapidados diversas vezes para que os desejos se
tornassem próspera realidade.
Primeiramente para
propiciar conhecimento da área e planejar a colonização no Planalto Norte
Catarinense o engenheiro Augusto Wunderwaldt e sua equipe abriam as primeiras
picadas com finalidade de estabelecer o traçado de uma estrada, a então Dona
Francisca, que saia de Joinville passando pela serra, chegando no planalto,
outros trabalhos também foram seguidos pelo engenheiro Carl Pabs. Já o
Engenheiro Augusto Heeren foi designado pelo diretor Niemeyer a estabelecer os
primeiros lotes, abrindo as picadas, e demarcando-os.
As propagandas da
Sociedade Colonizadora de Hamburgo ocorrem no Böhmerwald e se espalham,
oferecendo a venda de tentadoras terras produtivas. Vistas certamente como uma
oportunidade única. Grande parte dos imigrantes que aqui chegaram viviam em
feudos, trabalhando e produzindo na terra de outros. O sonho de ter sua própria
propriedade era tentador. Imaginava-se que aqui encontrariam semelhanças da
floresta, clima, terra e a oportunidade de prosperar.
Então partem da Europa
diversos imigrantes e navios. O primeiro com grande importância para o Planalto
Norte certamente é o Guttemberg, mas outros ainda viriam. “A bordo do navio de
vela “Sansibar”, um navio de dois mastros com que se fizeram a vela aos 18 de junho
de 1873, achavam-se pouco mais ou menos 170 imigrantes, na maioria
“teuto-bohemios”. (AMMON,1923), os primeiros imigrantes de São Bento chegaram
em Joinville, quando em 1873 já somavam aproximadamente 1700 imigrantes.
No mesmo ano em
Joinville destinam 70 imigrantes para então subirem a serra, e no planalto
formar a futura cidade de São Bento. Mas nas primeiras três semanas alguns
homens ajudaram na construção da Estrada Dona Francisca. Que já estava em
construção por cerca de 12 anos, embora a Guerra do Paraguai paralisou a obra
em até 5 anos, quando os trabalhos finalmente retornam as atividades em 1870.
Algumas preocupações
foram eminentemente despertadas, pelas diferenças e novidades do novo
continente, causando espanto a floresta densa, e o perigo dos índios Xokleng,
então chamados de bugres, ou ainda de animais peçonhentos, como as serpentes.
Os primeiros imigrantes,
que estavam empenhados na estrada, finalmente chegaram no Planalto Norte
Catarinense, na localidade atual de São Bento do Sul, no dia 10 de novembro,
desmataram e prepararam o solo para produção agrícola. Constroem ao total 10
casas, para confortar suas famílias. Os trabalhos eram todos feitos no sistema
“team-work”, uma ação coletiva onde todos se ajudavam e faziam o trabalho
render, e aproveitar as habilidades de cada um. Os imigrantes então retornam
para Joinville buscar as famílias e pertences pessoais, e com auxílio das
tropas de mulas dos tropeiros descendentes de portugueses, espanhóis e outros,
sobem a penosa serra com as cangalhas das mulas carregadas com variados
materiais e pertences pessoais.
“Consta no diário do
Engenheiro Heeren que sete mulas levavam sete “cargueiros” de mantimentos,
sendo seis sacos de farinha, três de feijão seis arrobas de carne e três de
toucinho, duas arrobas de açúcar e uma arroba de café. Outras três bestas
levavam, além de sacos com sal, panelas e apetrechos de cozinha, grande
quantidade de pregos para ripas de telhado, 18 ferramentas, dobradiças para
portas e janela, vidro plano para as janelas da casa da direção, além de mais
alguns sacos de farinha, carne seca e café.” (TERNES, 2002).
Deixaram para traz, na
Europa, uma floresta consideravelmente homogênea e de “pouca riqueza”, sendo
compreensivo a dificuldade destes em entender a biodiversidade que encontraram
no Brasil, ainda que para aquele primeiro momento importava o interesse de
produtividade. Alguns livros já publicados relatam que a mata era relativamente
assustadora, de tal modo que estes com pouca sorte se perdiam com facilidade.
Também apresentavam dificuldade em encontrar a caça.
É louvável a lembrança
deste 70 primeiros e esperançosos imigrantes, mas devemos nos voltar a atenção
e respeito aos tantos outros que aqui chegaram. Após um ano dos primeiros
imigrantes, portanto em 1874, já haviam em São Bento 50 famílias e uma
população de 310 pessoas. O povoado vai despertando para o progresso desta terra,
e em contínuos e sucessivos anos tantos outros ainda chegaram e somaram
valorosa contribuição, seja pela chegada dos numerosos navios ou por viagens em
terra provindas de distintas regiões e que aqui somaram considerável
influência.
Em relação a estruturação
urbana de São Bento alguns fatos são curiosos e interessantes, conforme
relatado por Wolfgang Ammon, no seu
livro Crônica do Município de São Bento Desde a Fundação 1873 até 1923. A
estrada de Wunderwaldt seguia para Rio Negro, estando a vila de São Bento muito
distanciada desta linha principal. “Também o terreno da futura cidade de São
Bento era o mais desfavorável possível, pois compunha-se de colinas
desfiladeiros e um tanto de banhado: ainda hoje não há, em toda colônia e seus
arredores, nenhum terreno mais ou menos plano por natureza. Foi necessário
criar penosamente a superfície aplainada para o jardim publico, para todos as
casa e chalets e todas as ruas por meio de aplainamento e aterros. A situação
desfavorável da colina adiantou a criação, o argumento dos pequenos lugares de
lençol (Reichenberg) Oxford, Mato Preto, Campo Alegre, etc., e impediu a
concentração do movimento na vila de São Bento. Infelizmente a estação foi
construída muito distante da sede apesar dos protestos do povo e da autoridade
municipal. Assim a vila de São Bento foi prejudicada pela segunda vez..”(AMMON,
1923). Lembrando porém que a construção da estrada de ferro está
cronologicamente mais avançada em relação a continuidade deste livro.
Fonte: Marcelo Hübel - Livro Pioneiros