Os
resultados do IFFSC (Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina)
Por: Coordenador Geral do Inventário Florístico Florestal do Estado de Santa Catarina - IFFSC, Prof. Dr. Alexander C. Vibrans
1. A
cobertura florestal remanescente em Santa Catarina atualmente é
de aproximadamente 29%. Isto quer dizer que 29 % do território
estão cobertos por formações florestais com mais
de 10m de altura e 15 anos de idade. Estas são as florestas
detectáveis pelos sensores dos satélites Landsat e
Spot, que geraram as imagens utilizadas.
2. Na
Floresta Estacional Decidual (FED) do Oeste catarinense a cobertura
florestal soma aproximadamente 16 %, nas florestas com pinheiros do
Planalto (Floresta Ombrófila Mista – FOM) 24 % e na Floresta
Ombrófila Densa (FOD), também chamada Floresta Pluvial
Atlântica, entre a Serra Geral e Serra do Mar e a costa, os
remanescentes somam 40 %.
3. Além
destas, vegetação pioneira e formações
florestais em estádio inicial de regeneração
foram encontradas em outros 2 a 4 % do território catarinense.
4. A
diversidade de plantas vasculares é grande: 2.372 espécies
foram registradas, entre as quais 857 espécies arbóreas
e arbustivas, 483 epífitos, 170 lianas, 315 pteridófitas
(samambaias), além de 547 ervas terrícolas. O IFFSC
registrou 43 % de todas as espécies citadas por Stehmann et
al. (2009) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9 %
das espécies citadas para a Floresta Ombrófila Densa,
bem como 61,8 % das espécies citadas para a Floresta
Estacional Decidual.
5. Um
quinto das espécies arbóreas registradas há 50
anos pelos botânicos Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein,
publicados na Flora Ilustrada Catarinense, não foram mais
observadas em 2010.
6. Raridade:
32 % de todas as espécies arbóreo-arbustivas foram
encontrados com menos de 10 indivíduos no Estado;
7.
Florestas empobrecidas: na FOM foram em média apenas 36
espécies lenhosas por remanescente florestal, na FED 38 e na
FOD 58. Na regeneração ocorre uma situação
mais preocupante: na FOM foram observadas somente 14 espécies,
na FED 15 e na FOD 57 espécies regenerantes e de sub-bosque.
8. Entre
as dez espécies dominantes na FOM encontram-se oito espécies
pioneiras e secundárias, na FOD sete destas categorias,
enquanto que na FED todas são tidas como pioneiras (três)
e secundárias (sete); isto quer dizer que há
pouquíssimos indivíduos de espécies climácicas
entre as árvores dominantes nas florestas catarinenses. O
mesmo vale para as espécies da regeneração nas
três regiões fitoecológicas.
9. Hovenia
dulcis Thunb. (tripa-de-galinha), uma espécie exótica
introduzida nos anos de 1970, ocupa a décima primeira posição
entre as espécies mais importantes na FED.
10. Menos
de 5% das florestas tem características de florestas maduras,
enquanto mais de 95 % dos remanescentes florestais do estado são
florestas secundárias, formadas por árvores jovens de
espécies pioneiras e secundárias, com troncos finos e
altura de até 15 metros e baixo potencial de uso.
11. As
constantes intervenções humanas na floresta, como a
exploração indiscriminada de madeira, roçadas e,
principalmente no planalto e no oeste catarinense, o pastoreio de
bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos. Eles são
potencializados pelo intensivo uso agrícola nos entornos dos
remanescentes pequenos (quanto menor a área do remanescente,
mais suscetível ele fica às influencias dos impactos no
entorno, como o uso do fogo e de pesticidas, perda de umidade devido
à maior incidência do vento e do sol). Estas formações
ainda podem ser dominadas por lianas que dificultam o seu
desenvolvimento, o que ocorre com maior intensidade na Floresta
Estacional Decidual. Pesa assim o fato de 90% dos fragmentos
florestais de Santa Catarina terem área menor que 50 hectares.
12. Os
efeitos do pequeno tamanho das áreas florestais e de seu uso
inadequado resultam num significativo
empobrecimento da floresta e na simplificação de sua
estrutura. Estes fatores, por sua vez, prejudicam as suas funções
protetoras do solo e dos mananciais, bem como sua função
de reservatório de carbono e guardião da
biodiversidade.
13. Os
dados do IFFSC mostram que várias espécies importantes
sob aspectos ecológico e/ou econômico apresentam baixa
diversidade genética em muitas de suas populações,
mesmo considerando fragmentos com populações mais
densas. A situação de fragmentação das
florestas e redução do tamanho populacional leva a uma
perspectiva de perdas ainda maiores de diversidade (índices de
fixação de alelos elevados) para várias
espécies.
14. O
conjunto de resultados reforça as possibilidades
de perda de adaptabilidade e dinamismo populacional, o que traz como
consequência, com o passar do tempo (gerações),
grande aumento no risco de extinção local.
15. De
uma maneira geral, os resultados indicam grande variação
de diversidade genética potencial em cada uma das espécies
e, principalmente, entre as populações das mesmas.
Contudo, os índices de fixação foram, na sua
maioria, elevados, refletindo os efeitos da redução dos
tamanhos populacionais nas populações estudadas em
decorrência do processo histórico de super-exploração.
16. Existe
um grande distanciamento entre os proprietários das florestas
e os órgãos de fiscalização e de
licenciamento ambiental. Isto acarreta em um comportamento contra
produtivo da população rural em relação
aos remanescentes florestais, como, por exemplo, a erradicação
de qualquer regeneração de araucárias por medo
de se criar um “problema”.
17. Por
outro lado constatou-se que a grande maioria da população
rural tem uma consciência muito clara dos benefícios
sociais e ambientais das florestas nativas, consciência essa
que, no entanto, não se traduz em ações para
assegurá-los, muito pelo contrário, como o exemplo
acima citado mostra.
Prof. Dr. Alexander C. Vibrans