segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os resultados do IFFSC (vegetação - floresta em Santa Catarina)


Os resultados do IFFSC (Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina) 



 Por: Coordenador Geral do Inventário Florístico Florestal do Estado de Santa Catarina - IFFSC, Prof. Dr. Alexander C. Vibrans




1. A cobertura florestal remanescente em Santa Catarina atualmente é de aproximadamente 29%. Isto quer dizer que 29 % do território estão cobertos por formações florestais com mais de 10m de altura e 15 anos de idade. Estas são as florestas detectáveis pelos sensores dos satélites Landsat e Spot, que geraram as imagens utilizadas.

2. Na Floresta Estacional Decidual (FED) do Oeste catarinense a cobertura florestal soma aproximadamente 16 %, nas florestas com pinheiros do Planalto (Floresta Ombrófila Mista – FOM) 24 % e na Floresta Ombrófila Densa (FOD), também chamada Floresta Pluvial Atlântica, entre a Serra Geral e Serra do Mar e a costa, os remanescentes somam 40 %.

3. Além destas, vegetação pioneira e formações florestais em estádio inicial de regeneração foram encontradas em outros 2 a 4 % do território catarinense.

4. A diversidade de plantas vasculares é grande: 2.372 espécies foram registradas, entre as quais 857 espécies arbóreas e arbustivas, 483 epífitos, 170 lianas, 315 pteridófitas (samambaias), além de 547 ervas terrícolas. O IFFSC registrou 43 % de todas as espécies citadas por Stehmann et al. (2009) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9 % das espécies citadas para a Floresta Ombrófila Densa, bem como 61,8 % das espécies citadas para a Floresta Estacional Decidual.

5. Um quinto das espécies arbóreas registradas há 50 anos pelos botânicos Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, publicados na Flora Ilustrada Catarinense, não foram mais observadas em 2010.

6. Raridade: 32 % de todas as espécies arbóreo-arbustivas foram encontrados com menos de 10 indivíduos no Estado;

7. Florestas empobrecidas: na FOM foram em média apenas 36 espécies lenhosas por remanescente florestal, na FED 38 e na FOD 58. Na regeneração ocorre uma situação mais preocupante: na FOM foram observadas somente 14 espécies, na FED 15 e na FOD 57 espécies regenerantes e de sub-bosque.

8. Entre as dez espécies dominantes na FOM encontram-se oito espécies pioneiras e secundárias, na FOD sete destas categorias, enquanto que na FED todas são tidas como pioneiras (três) e secundárias (sete); isto quer dizer que há pouquíssimos indivíduos de espécies climácicas entre as árvores dominantes nas florestas catarinenses. O mesmo vale para as espécies da regeneração nas três regiões fitoecológicas.

9. Hovenia dulcis Thunb. (tripa-de-galinha), uma espécie exótica introduzida nos anos de 1970, ocupa a décima primeira posição entre as espécies mais importantes na FED.

10. Menos de 5% das florestas tem características de florestas maduras, enquanto mais de 95 % dos remanescentes florestais do estado são florestas secundárias, formadas por árvores jovens de espécies pioneiras e secundárias, com troncos finos e altura de até 15 metros e baixo potencial de uso.
11. As constantes intervenções humanas na floresta, como a exploração indiscriminada de madeira, roçadas e, principalmente no planalto e no oeste catarinense, o pastoreio de bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos. Eles são potencializados pelo intensivo uso agrícola nos entornos dos remanescentes pequenos (quanto menor a área do remanescente, mais suscetível ele fica às influencias dos impactos no entorno, como o uso do fogo e de pesticidas, perda de umidade devido à maior incidência do vento e do sol). Estas formações ainda podem ser dominadas por lianas que dificultam o seu desenvolvimento, o que ocorre com maior intensidade na Floresta Estacional Decidual. Pesa assim o fato de 90% dos fragmentos florestais de Santa Catarina terem área menor que 50 hectares.

12. Os efeitos do pequeno tamanho das áreas florestais e de seu uso inadequado resultam num significativo empobrecimento da floresta e na simplificação de sua estrutura. Estes fatores, por sua vez, prejudicam as suas funções protetoras do solo e dos mananciais, bem como sua função de reservatório de carbono e guardião da biodiversidade.

13. Os dados do IFFSC mostram que várias espécies importantes sob aspectos ecológico e/ou econômico apresentam baixa diversidade genética em muitas de suas populações, mesmo considerando fragmentos com populações mais densas. A situação de fragmentação das florestas e redução do tamanho populacional leva a uma perspectiva de perdas ainda maiores de diversidade (índices de fixação de alelos elevados) para várias espécies.

14. O conjunto de resultados reforça as possibilidades de perda de adaptabilidade e dinamismo populacional, o que traz como consequência, com o passar do tempo (gerações), grande aumento no risco de extinção local.

15. De uma maneira geral, os resultados indicam grande variação de diversidade genética potencial em cada uma das espécies e, principalmente, entre as populações das mesmas. Contudo, os índices de fixação foram, na sua maioria, elevados, refletindo os efeitos da redução dos tamanhos populacionais nas populações estudadas em decorrência do processo histórico de super-exploração.

16. Existe um grande distanciamento entre os proprietários das florestas e os órgãos de fiscalização e de licenciamento ambiental. Isto acarreta em um comportamento contra produtivo da população rural em relação aos remanescentes florestais, como, por exemplo, a erradicação de qualquer regeneração de araucárias por medo de se criar um “problema”.

17. Por outro lado constatou-se que a grande maioria da população rural tem uma consciência muito clara dos benefícios sociais e ambientais das florestas nativas, consciência essa que, no entanto, não se traduz em ações para assegurá-los, muito pelo contrário, como o exemplo acima citado mostra.
Prof. Dr. Alexander C. Vibrans