terça-feira, 26 de julho de 2011

INTERPRETAÇÃO DA AVIFAUNA NA QUALIDADE AMBIENTAL, NA IMPORTÂNCIA DAS CONECTIVIDADES DE ÁREAS E NA MANUTEÇÃO DE SUB-BOSQUE.

INTERPRETAÇÃO DA AVIFAUNA NA QUALIDADE AMBIENTAL, NA IMPORTÂNCIA DAS CONECTIVIDADES DE ÁREAS E NA MANUTEÇÃO DE SUB-BOSQUE.

Autor 1 - Marcelo Hübel (Unc – Universidade do Contestado - Campus-Mafra)
Autor 2 – Celso Darci Seger

RESUMO
Este artigo demostra ao orgão ambiental competente no Estado de Santa Catarina, a valoração do estudo de avifauna como orientação para a efetivação de áreas de Reserva Legal ou ainda para a interpretação das solicitações de supressão de vegetação, ou a prática de roçado de sub-bosque. A necessidade da supressão de vegetação é uma constante no decorrer do desenvolvimento da sociedade, com justificativas coerentes basicamente entendidas pela real necessidade da expansão da área urbana, ou crescimento da agropecuária e de florestas exóticas plantadas. Todavia os critérios de identificação para supressão de vegetação pouco são interpretados pela situação de ambiente, analisando o habitat da fauna e a conectividade de áreas. A importância da analise da supressão pode não estar associada somente na importância da flora, em consideração as espécies e seu volume, mas a biodiversidade e formação de fluxo gênico são relevantes garantias da manutenção da fauna e flora. Contudo as aves são excelentes bioindicadores e transparecem a qualidade ambiental. Conforme as espécies observadas é possível definir a necessidade de preservação do local. Principalmente porque não são apenas as árvores do dossel superior da floresta que apresentam status de valoração, mas a vegetação de sub-bosque, a regeneração contínua da floresta e até os diferentes estágios de sucessão demandam zelo de observação. Onde não somente um inventário é fidedigno para única analise de viabilidade de supressão.

Palavras-chave: avifauna, supressão, corredor de fluxo gênico, reserva legal.

1. INTRODUÇÃO
Para Santa Catarina o estudo de avifauna pode compreender diferentes ambientes com necessidade de interpretação e preservação. São destaques de formação de três macros ambientes o mar, a floresta e o campo. O mar apresenta 53km de costa que se dividem em manguezais, baías, enseadas, praias, dunas, lagoas e banhados. As Florestas apresentam características intrínsecas e se destacam: a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Pluvial da encosta atlântica); a Floresta Ombrófila Mista (Floreta de Araucária); Floresta Estacional Decidual (Floresta Subtropical ao longo do Rio Uruguai). Enquanto áreas onde o predomínio de gramíneas e ciperáceas se efetivam os campos naturais. Cada ambiente apresenta sua particularidade em relação as espécies que o habitam, sendo cada qual importante na preservação para manutenção das espécies. “Nesta época em que começamos a ficar conscientes da grande importância em manter o equilíbrio ecológico da natureza, a utilidade das aves deve ser reconhecida”.(BELTON, 2004, p.13). Mas este artigo objeto de trabalho resultante de 30 meses de trabalho de campo em Floresta Ombrófila Mista e apresenta em sua analise quatro ambientes diferenciados em sua qualidade ambiental, permitindo a interpretação dos dados para analise dos fatos de formação florestal. Conforme Helmut Sick (2001) o Brasil apresenta 1677 espécies de aves. De acordo com Lenir Alda do Rosário (1996) em suas pesquisas e levantamentos “...foram listadas 596 espécies de aves para Santa Catarina, as quais, estão contidas em 23 Ordens e 69 Famílias.” Mas, no propósito do estudo apresentado, não são listas taxonômicas extensas que torna-se relevante para a determinação de um ambiente, embora a variabilidade de espécies também esteja associada a interpretação. O intuito deste estudo é fortalecer as informações das aves representantes da Floresta Ombrófila Mista em ambientes distintos de estágio de sucessão. Mesmo as listagens de espécies encontradas e o tempo dedicado passam por revelação de um material rico para o Planalto Catarinense. “Merece destaque nesta região, os registros das espécies Leptasthenura setaria, Leptasthenura striolata e Syndactyla rufoperciliata que têm suas vidas fortemente associadas à floresta de araucária”.(ROSÁRIO, 1996, p.36). A necessidade de preservação aumenta conforme a caracterização do ambiente e a presença de determinadas espécies e a interpretação da associação destas com o todo que pode garantir a sobrevivência de espécies endêmicas como o Grimpeirinho (Leptasthenura setaria) e não menos importante o Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), ameaçado de extinção pela lista do IBAMA de 2003. As alterações do ambiente por força antrópica sempre serão constante e fundamenta em justificativas coerentes com a vontade de crescimento e desenvolvimento da sociedade, mas os preceitos da sustentabilidade devem ser alavancas fortes para o entendimento que é possível preservar para uma alcançarmos uma sociedade com êxito.

As alterações humanas drásticas da paisagem implicaram que o resto do ambiente natural pode tornar-se pequeno demais para abrigar espécies de animais que exigem um espaço mais amplo para sobreviver. Não é possível preservar a avifauna oferecendo-lhes apenas sombras de habitat. (SICK 2001. p 64)

As área de criação de unidades de conservação podem ser a garantia da manutenção de espécies, mas todas as regiões preservadas podem garantir a o conceito de progresso e desenvolvimento para uma sociedade socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável.


2.METODOLOGIA

O estudo foi realizado por dois profissionais biólogos, Marcelo Hübel e Celso Darci Seger, na Fazenda Rio Corredeiras em Rio Negrinho - SC, antes pertencente ao Grupo Nueva e hoje de administração da RENOVA Florestal com capital social de fundos de pensão.

Os trabalhos foram realizados em 4 sítios distintos entre si em espaço e qualidade ambiental. Foram realizados quatro visitas de campo por mês, perfazendo um total de 30 meses de atividade com 120 dias de acampamento. O trabalho possibilitou a abrangência de dois ciclos sazonais completos.
Para melhor compreensão do local estudado, na interpretação das conectividades e continuidade deste com os confrontantes, foram analisados materiais cartográficos, fotos aéreas e mapas. Para a observação direta das aves no sítio e seu entorno foi utilizado um binóculo 7x35 e 8x40. Em alguns casos para melhor eficiência e certeza da identificação, as aves eram atraídas por um gravador, que captura o próprio canto da ave e com efeitos seguidos de play-back eram então reconhecidas. As capturas e marcações formam essenciais para o trabalho. As capturas ocorreram por meio do emprego de armadilhas, constituindo-se estas de redes-de-neblina (mist-nets), as quais foram armadas em locais propícios para a captura de espécimes. Para atingir os objetivos do projeto, foram armadas redes em locais contendo vegetação nativa (em diferentes estágios de sucessão), áreas de ecótonos (bordas de vegetação nativa com o pinus) e também, no interior do pinus. Todas aves capturadas foram identificadas e com registro de medidas de comprimento total, tarso, bico e asa. Outras anotações complementavam o registro como: estado de saúde, sexo, idade também foram anotados para então as aves serem soltas no mesmo local de captura.

3 NOMENCLATURA CIENTÍFICA E VERNÁCULA ADOTADA

A ordenação taxonômica e vernácula adotada conforme apresentada teve como base a apresentada por SICK (1997).

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A fazenda Rio Corredeiras apresenta no interior de seus limites, diferentes formações vegetacionais. A paisagem predominante era composta de Pinus (Pinus taeda, e P. elliotii). Com o início da colheita, a fisionomia da área foi se alterando, passando a predominar então, áreas abertas, que após um determinado período foram novamente replantadas com pinus. Locais mais íngremes e de difícil acesso e algumas poucas áreas mais planas são cobertas por vegetação nativa, que podem apresentar porte diferenciado de acordo com o grau de interferência antrópica que sofreram. Raros são os locais onde ainda podem ser encontradas árvores remanescentes da floresta primária, predominando vegetação secundária em estágio de sucessão inicial (capoeirinha) e sucessão intermediária (capoeira). O sub-bosque destas áreas em geral é ocupado por denso taquaral. Também se fazem presentes ambientes aquáticos representados por pequenos rios e riachos, além de lagos de diferentes tamanhos encontrados no interior e divisas da fazenda. Em áreas úmidas (banhados), pouquíssimo representativo na fazenda, a vegetação é basicamente composta de vegetação rasteiras, dominando gramíneas (Poaceae e Ciperáceas).

5. RESULTADOS OBTIDOS

Como resultado do levantamento quatitativo, houve o registro de 210 espécies de aves pertencentes a 42 famílias para toda a área da fazenda Rio Corredeiras, equivalendo a 35,23% das espécies encontradas para o Estado de Santa Catarina, utilizando-se como referência o trabalho de ROSÁRIO (1996). Desse total, 176 tiveram seu registro nos espaços delimitados como sítios de amostragens, enquanto que 34 no entorno desses, e limites da fazenda com propriedades vizinhas, entre as interpretações qualitativas das aves e o ambiente é possível interpretar, o posicionamento de captura em primeiro estrato e analise dos diferentes sítios amostrais em suas características de sub-bosque e continuidade de corredor de fluxo gênico.



5.1. Caracterização dos Sítios de Amostragens e Quantidade de Espécies Registradas.


Os sítios definidos e suas características com relação à composição vegetacional foram os seguintes:

Sítio 01: este sítio encontra-se em uma área de divisa com as propriedades dos senhores João Kurosky e Altino Kurosky. Pelo fato de haver uma continuidade da com as propriedades em questão, constitui-se de um remanescente de vegetação nativa secundária de bom tamanho para a região. No local onde se fez as coletas, a vegetação é de estágio médio (capoeira), sendo também encontradas árvores esparsas da floresta primitiva e também pinheiros Araucaria angustifólia (plantados), bracatinga Mimosa scabrela, vassourão-branco Piptocorpha angustifolia, vassourão preto Vernonia discolor, erva-mate Illex paragariensis e gerivá Scyagrus romanzofiana, constituindo-se nas principais formadoras do dossel superior da vegetação deste sítio. O sub-bosque apresenta-se heterogêneo, apresentando alguns pontos com concentração de vegetação arbustiva, e outros, com densa formação de taquaras. Além da amostragem do remanescente de maior tamanho (descrito acima), outros pequenos fragmentos de vegetação nativa encontrada por entre o pinus também foram analisados, assim como o próprio pinus.
Nesse sítio, houve o registro de 134 espécies, equivalendo a 63,80% da listagem de espécies registradas para a fazenda.





Sítio 02: está localizado num fundo de vale bastante íngreme, o qual faz divisa com uma área de propriedade da empresa Mobasa/Battistela. Entre os 4 sítios de amostragens, é o que se apresenta em melhor estado de conservação com relação à composição florestal primitiva. Devido ao terreno bastante acidentado (o que dificultou o acesso de pessoas e máquinas) houve no mesmo em anos passados, apenas uma extração seletiva de madeiras de maior interesse comercial. Assim sendo, é encontrado atualmente em seu interior, um adensamento de árvores de maior porte, algumas, provavelmente remanescentes da floresta que originalmente cobria a região. Também ocorre uma grande quantidade de plantas epífitas (bromélias, orquídeas, etc.) e trepadeiras (cipós e lianas) que formam microhabitats colonizados por diferentes espécies de aves. Um número de 125 espécies foi registrado nesse sítio, equivalendo a 59,52% do total de registros da fazenda.
Determinadas espécies só se fizeram presentes nesse sítio, devido à presença de vegetação de maior porte e com características ambientais mais primitivas. Como exemplo pode-se citar a espécie choquinha-estrelada Myrmotherula gularis, somente registrado para o referido sítio.

Sítio 03: o sítio 03 compõe-se de uma estreita faixa de vegetação nativa ao longo de um córrego, afluente do rio Corredeiras. Apresenta-se bastante alterado, predominando vegetação secundária em estágio médio e sub-bosque dominado por taquaras e xaxins Dycsonia sp. Árvores de maior porte são representadas pelo branquilho Sebastiana commersoniana, pessegueiro-bravo Prunus selowii, bracatingas Mimosa scabrella, aroeira Schinus terebentifolium, erva-mate Ilex paraguariensis e pinheiro Araucaria angustifolia, entre outras. Diferente dos demais sítios, o represamento do córrego provocado pela construção de uma estrada de acesso a fazenda, originou a formação de um pequeno lago de pouca profundidade. Este lago constitui-se de um ambiente que atrai aves de hábitos aquáticos e semi-aquáticos, além de mamíferos que apresentam o mesmo hábito. Nesse sítio ocorreram 133 registros de espécies de aves, correspondendo a 63,33% da listagem total.



Sítio 04: o referido sítio é composto por um bloco de vegetação nativa, também localizada em um fundo de vale. A vegetação deste é composta por capoeira e taquaras, ocorrendo também algumas árvores esparsas e de grande porte da floresta original, apresentando troncos e galhos recobertos por epífitas.
Um total de 125 espécies foi constatado para o sítio 04, representando 59,52% da listagem constatada para a fazenda.

Outros: espécies registradas em outros locais da fazenda (a princípio não intencional), fora dos sítios de amostragens definidos, foram consideradas em um sítio especial denominado de “outros”. Um total de 34 espécies, a maioria de ambientes aquáticos teve seu registro fora dos sítios de amostragem, equivalente a 16,19% da listagem geral.


5.2. Comparação entre a Composição Avifaunística dos Quatro Sítios de Amostragens

Pela quantidade de espécies registradas nos sítios de amostragens, pôde-se constatar que mesmo com a existência de algumas diferenças entre a fitofisionomia de cada um (com uma diferenciação maior presenciada para o sítio 02), a composição foi bastante parecida entre os quatro. Dentre as 176 espécies que tiveram algum registro nos sítios em questão (desconsiderando-se as 34 espécies registradas em outros locais), 81 (46.02%) foram registradas em todos os sítios. Como exemplos citam-se entre outras as seguintes:

  • Pica-pau-carijó Veniliornis spilogaster; chupa-dente Conopophaga lineata; pi-puí Synallaxis cinerascens; sabiá-laranjeira Turdus rufiventris; cigara-bambu Haplozpiza unicolor; pula-pula-assobiador Basileuterus leucoblepharus; cabecinha-castanha Pyrrhocoma ruficeps; arapaçu-verde Sittasomus griseicapillus; quete Poospiza lateralis; tico-tico Zonotrichia capensis


Com registro para três sítios foram 31 espécies (17,61%), citando algumas:

  • jacu-guaçu Penelope obscura; saracura-do-mato Aramides saracura; beija-flôr-de-topete Stephanoxis lalandi; pica-pau-verde-barrado Colaptes melanochlorus; tangará-dançador Chiroxiphia caudata


Com registro em dois dos sítios de amostragens, o número foi de 27 espécies (!5,34%), com destaque para:

  • gavião-de-cauda-branca Buteo albicaudatus; gavião-relógio Micrastur semitorquatus; surucuá-de-barriga-amarela Trogon rufus; pica-pau-rei Campephilus robustus; choquinha-lisa Dysithamnus mentalis; tovacuçu-malhado Gralaria varia


Com registro para somente um sítio foram 37 espécies (21,02%) citando alguns exemplos:

  • choquinha-estrelada Myrmotherula gularis; jacupemba Penelope superciliaris; papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea; martim-pescador-pequeno Chloroceryle americana; gavião-miudinho Accipiter superciliosus

5.3. Distribuição das Espécies nos Diferentes Ambientes Encontrados na Fazenda

Para a análise da distribuição ambiental (segundo ocupação preferencial) das espécies de ocorrência para a Fazenda Rio Corredeiras, foram consideradas 5 fácies ambientais distintas de acordo com as diferentes tipologias vegetacionais presentes na área.

a) Vegetação Nativa Primária Alterada e Secundária Avançada

Dentre os sítios pesquisados nos limites da fazenda Rio Corredeiras, este tipo de vegetação é encontrada especialmente no sítio 02. Além deste, também em pequena proporção no sítio 04, onde ainda se fazem presentes algumas poucas árvores da floresta original, recobertas por várias espécies de plantas epífitas.
Ocupando esse ambiente, constatou-se a presença de 98 espécies de aves, algumas das quais mais exigentes a condições ambientais somente presentes em áreas cobertas com vegetação de maior porte. Entre outras, ocorrem:

  • jacu-guaçu Penelope obscura; papagaio-de-peito-roxo Amazona vinacea; baitaca Pionus maximiliani; surucuá-de-barriga-amarela Trogon rufus; tucano-de-bico-verde Ramphastos dicolorus; tovacuçu-malhado Gralaria varia; choquinha-estrela Myrmotherula gullaris; arapaçu-de-bico-preto-torto Campylorhamphus falcularius

b) Vegetação Nativa Secundária em Estágio Inicial e Médio

Vegetação predominante nos sítios 01 e 03. No sítio 01 a área de entorno que se encontra fora dos limites da fazenda apresenta vegetação mais avançada, em estágio próximo de capoeirão e algumas árvores remanescentes da floresta primitiva. Um total de 136 espécies foi constatado ocupando estas formações, destacando-se como exemplos típicos as relacionadas a seguir:

  • nhambu-chororó Crypturellus parvirostris; gavião-carijó Rupornis magnirostris; juriti-pupu Leptotila verreaux; alma-de-gato Piaya cayana; beija-flor-de-papo-branco Leucochloris albicollis; pica-pau-verde-barrado Colaptes melanochlorus; borralhara-assobiadora Mackenziaena leachii; trovoada Drymophila ferruginea; pi-pui Synallaxis cinerascens; arapaçu-verde Sittasomus griseicapillus; catraca Hemitriccus obsoletus; sabiá-poca Turdus amaurochalinus; tié-de-topete Trichothraupis melanops

c) Sistemas Aquáticos e Semi-Aquáticos

Habitam esses ambientes, espécies que tem dependência total ou parcial de locais com presença de água. Um número de 16 espécies da listagem geral teve seu registro no referido ambiente. A maioria, em locais fora dos sítios de amostragens como já salientado anteriormente, principalmente em tanques construídos em uma fazenda vizinha de propriedade da empresa Cerramarte que faz divisa com a fazenda estudada. No sítio 03, a presença de um pequeno lago também proporcionou a visualização de algumas das espécies. Na tabela de espécies (anexo 01) foram assinaladas como de ocorrência para o sítio denominado de “outros”.
Alguns exemplos de espécies habitantes desse ambiente são:

  • martim-pescador-grande Ceryle torquata; martim-pescador-pequeno Chloroceryle americana; socozinho Butorides striatus; saracura-do-mato Aramides saracura; pato-do-mato Cairina Moschata; jaçanã Jacana jaçanã; garça-branca-pequena Egretta thula; garça-branca-grande Casmerodius albus; marreca-ananaí Amazonetta brasiliensis; frango d´água Gallinula Chloropus

d) Áreas Abertas

Representadas por campos, estradas e áreas onde houve colheita recente de pinus. Um total de 43 espécies foram constatadas nesses ambientes, algumas das quais, também freqüentando outros ambientes descritos anteriormente. São exemplos:

  • garça-vaqueira Bubulcus íbis; maria-faceira Syrigma sibilatrix; quiri-quiri Falco sparverius; coruja buraqueira Speotyto cunicularia; pica-pau-do-campo Colaptes campestris; joão-de-barro Furnarius rufus; canário-da-terra Sicalis flaveola.

e) Borda de Pinus com Vegetação Nativa

Ao longo das faixas de transição entre o pinus com a vegetação nativa, foram registradas um total de 58 espécies. Geralmente essa faixa apresentava o sub-bosque do pinus tomado por capoeirinhas como apresentado na figura 10. Dentre outras espécies encontradas, destacam-se:

  • pica-pau-carijó Veniliornis spilogaster; arapaçu-escamoso Lepidocolaptes falcinellus; arapaçu-grande Dendrocolaptes platyrostris; arapaçu-verde Sittasomus griseicapillus; trepador-quiete Syndactyla rufosuperciliata; pichororé Synallasix ruficapila; tico-tico Zonotrichia capensis; quete Poospiza lateralis

f) Pinus

Adentrando os plantios de pinus em locais mais afastados da borda com a vegetação nativa, somente 13 espécies foram registradas. È importante salientar que toda a espécie registrada no pinus não tem aí um ambiente exclusivo, mas sim, pelo que foi verificado, apenas se deslocam da vegetação nativa para o mesmo, retornando depois de certo período. Outras se utilizam da vegetação do pinus para pouso e espreita de presas.
As mais comuns de visualização foram:

  • tiriva Pyrrhura frontalis; Tesoura-cinzenta Muscipipra vetula; siriri Tyrannus melancholicus ; bem-te-vi-rajado Myiodynastes macullatus; gavião-carijó Rupornis magnirostris; carapateiro Milvago chimachima

Pelo fato da maioria das espécies apresentarem hábitos generalistas, várias tiveram seu registro em mais de um dos ambientes considerados, portanto, o leitor deve ter o cuidado para não somar os valores, pois isto incutiria num erro, tendo em vista que se assim proceder, a soma dos valores ultrapassa a quantidade apresentada na lista geral de espécies.


5.4. Captura e Marcação

O trabalho foi desenvolvido considerando algumas técnicas indispensáveis para o acompanhamento da periodicidade das aves por território, sendo feitas capturas e marcações de aves com o emprego de redes-de-neblina, um número de 520 indivíduos pertencentes a 66 espécies foram capturadas e marcadas O emprego de redes possibilitou a captura de espécies que habitam locais com vegetação fechada, o que dificulta seu registro através do contato visual. Como exemplo menciona-se a tovaca-campainha Chamaeza campanisona e o cisqueiro Clibanornis dendrocolaptoides geralmente registrados apenas por reconhecimento auditivo. Outra captura importante foi a da araponga Procnias nudicollis (sítio 01), espécie que habita preferencialmente o estrato superior da mata, o que torna assim difícil a sua captura. Entre as espécies com maior percentual de captura destacam-se o pula-pula-assobiador Basileuterus leucoblepharus, a cigara-bambu Haplospiza unicolor e o cabecinha-castana Pyrrhocoma ruficeps, as duas últimas, alimentando-se de sementes de taquara.
Redes armadas na borda do pinus com a vegetação nativa, onde geralmente há a presença de um sub-bosque formado de capoeirinha surtiram na captura de diferentes espécies. Entre outras capturadas neste ecótono, destacam-se o tico-tico Zonotrichia capensis, o quete Poospiza lateralis, a cigara-bambu Haplospiza unicolor, o gente-de-fora-vem Cyclarhys gujanensis, o pula-pula Basileuterus culicivorus, e o arapaçu-verde Sittasomus griseicapillus. Quanto ás redes armadas mais para o interior do pinus, houve somente a captura de dois indivíduos de duas espécies..



Quadro 01- Distribuição de espécies capturadas por sítio de amostragem

Sítio
Nº. de
Indivíduos
N.º de
Espécies
Sexo

Idade

Ambiente




Macho
Fêmea
Indeterminado
Adulto
Jovem
Nativo
Pinus
Borda
01
204
47
32
25
147
191
13
204
--
--
02
102
39
21
22
59
97
05
98
04
--
03
91
32
13
17
61
87
04
79
12
--
04
123
41
16
09
98
113
10
93
28
02
Total
520

82
73
365
488
32
474
44
02


 
Quadro 2. Quantidade de espécies capturadas e identificadas por sítios de amostragem

ESPÉCIE
NOME POPULAR
INDIVÍDUOS CAPTURADOS

CAPTURAS/SÍTIO

SÍTIO


01
02
03
04
Basileuterus leucoblepharus
pula-pula-assobiador
41
16
03
13
09
Pyrrhocoma ruficeps
cabecinha-castanha
36
10
12
06
08
Haplospiza unicolor
cigarra-bambu
36
17
10
05
04
Turdus rufiventris
sabiá-laranjeira
24
06
04
07
07
Sittasomus griseicapillus
arapaçu-verde
19
06
03
06
04
Poospiza lateralis
Quete
18
10
--
03
05
Platyrinchus mystaceus
Patinho
18
05
04
02
07
Amaurospiza moesta
negrinho-da-mata
16
06
--
03
07
Conopophaga lineata
chupa-dente
16
07
01
04
04
Syndactyla rufosuperciliata
Trepador quiete
15
07
01
03
04
Lathrotriccus euleri
enferrujadinho
15
08
02
01
04
Synallaxis cinerascens
pi-puí
12
09
--
02
01
Synallaxis ruficapilla
Pichororé
12
06
01
02
03
Hemitriccus obsoletus
Catraca
12
05
01
03
03
Phylloscartes ventralis
borboletinha-da-mata
12
05
--
01
06
Thamnophilus caerulescens
choquinha-da-mata
11
06
01
01
03
Lepidocolaptes falcinellus
arapaçu-escamoso
11
02
05
--
04
Saltator similis
trinca-ferro-verdadeiro
10
07
01
01
01
Heliobletus contaminatus
bico-virado-do-sul
10
02
02
03
03
Basileuterus culicivorus
pula-pula
10
04
03
--
03
Dendrocolaptes platyrostris
arapaçu-grande
10
03
02
04
01
Campylorhamphus falcularius
arapaçu-de-bico-preto-torto
08
--
01
02
05
Xiphocolaptes albicollis
arapaçu-de-garganta-branca
07
03
03
01
--
Schiffornis virescens
Flautim
07
05
01
01
--
Myiodynastes macullatus
bem-te-vi-rajado
07
04
01
01
01
Atila phoenicurus
capitão-castanho
07
01
05
--
--
Drymophila ferruginea
Trovoada
06
02
--
--
04
Lepidocolaptes fuscus
arapaçu-rajado
06
04
01
--
01
Veniliornis spilogaster
pica-pau-carijó
06
04
01
01
--
Pipraedea melanonota
saíra-viuva
06
06
--
--
--
Elaenia parvirostris

06
--
--
04
02
Zonotrichia capensis
tico-tico
05
01
--
--
03
Turdus albicollis
sabiá-coleira
05
03
02
--
--
Dysithamnus mentalis
choquinha-lisa
05
--
05
--
--
Chiroxiphia caudata
Tangará
04
--
03
--
01
Leptotila rufaxila
juriti-gemedeira
04
--
02
01
01
Clibanornis dendrocolaptoides
Cisqueiro
04
03
--
--
01
Tachyphonus coronatus
tié-preto
04
03
--
--
01
Ciclarhrys gujanensis
gente-de-fora-vem
04
02
--
--
02
Sclerurus scansor
vira-folha-vermelho
04
01
03
--
--
Cichlocolaptes leucophrys
Trepador-sobrancelha
04
02
01
--
01
Carpornis cucullatus
Corocoxo
04
02
02
--
--
Knipolegus cyanirostris
maria-preta-de-bico-azulado
04
--
--
03
01
Saltator maxilosus
trinca-ferro-de-bico-grosso
03
--
02
01
--
Mionectes rufiventris
abre-asa-de-cabeça-cinza
03
01
02
--
--
Platyciclha flavipes
sabiá-preto
03
01
02
--
--
Picumnus temminckii
pica-pau-anão-barrado
03
02
--
--
01
Geotrigon montana
juriti-piranga
03
--
03
--
--
Phylidor rufus
limpa-folhas-de-testa-baia
02
--
01
01
--
Leptopogon amaurocephalus
Cabeçudo
02
01
--
--
01
Vireo chivi
Juruviara
02
--
--
--
02
Chamaeza campanisona
tovaca-campainha
02
--
01
--
01
Trogon rufus
Surucuá-de-barriga-amarela
02
--
02
--
--
Trichothraupis melanops
tié-de-topete
02
--
02
--
--
Drymophila malura
Pintadinho
01
01
--
--
--
Colaptes melanochlorus
pica-pau-verde-barrado
01
01
--
--
--
Camptostoma obsoletum
Risadinha
01
01
--
--
--
Lochmias nematura
joão-porca
01
--
--
01
--
Anabacerthia amaurotis
limpa-folhas-miúdo
01
--
--
--
01
Contopus cinereus
papa-moscas-cinzento
01
--
--
--
01
Stephanophorus diadematus
Sanhaço-frade
01
01
--
--
--
Tangara peruviana

01
--
--
01
--
Myiarchus swainsoni
Irrê
01
--
--
01
--
Pachyramphus polycopterus
caneleiro-preto
01
--
--
--
01
Hylopezus ochroleucus
pinto-do-mato
01
01
--
--
--
Cranioleuca obsoleta
Arredio-oliváceo
01
01
--
--
--

TOTAL
520
204
102
91
123


6. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Diferentes espécies foram visualizadas nos plantios de pinus, no entanto, a maioria em faixas de transição entre o pinus e a vegetação nativa. A constatação da presença de espécies em locais mais interiorizados do pinus foi bem reduzida, geralmente de espécies que se utilizam desse para pouso.
A presença de 58 espécies, número até relativamente elevado somente ocorreu devido ao manejo realizado no pinus para melhorar a produção do mesmo na fazenda trabalhada. Três desbastes subseqüentes ocorridos ao longo dos anos, os últimos, em 1993 e 1995, permitiram que, com o afastamento das árvores, uma maior entrada de luz em determinados locais acontecesse (principalmente na borda), o que proporcionou o crescimento de árvores e arbustos (capoeirinha) que assim foram colonizadas por algumas espécies de aves típicas desse ambiente. Essa situação também foi presenciada ao longo de estradas que cortam os talhões de pinus. Praticamente todas as espécies registradas apresentam dietas alimentares compostas basicamente de insetos e demais artrópodos, muito provável um dos poucos recursos alimentares encontrados na referida situação ambiental.
Outro detalhe a ser ressaltado, se refere á composição da avifauna atualmente presente nos diferentes ambientes da fazenda Rio Corredeiras. Com raras exceções, a maioria das espécies compõe-se de generalistas (que ocupam diferentes ambientes) e habitantes de áreas abertas, algumas das quais com alto grau de sinantropia.
A formação de um sub-bosque (capoeirinha) em vários pontos nos plantios de pinus, fez com que diferentes espécies se deslocassem entre as áreas de vegetação nativa e o pinus, formando assim um território com extensões maiores que proporcionou a colonização de um determinado número de indivíduos por espécie. Com a supressão da capoeirinha após a colheita, houve uma redução desse território.
A diminuição de território referente ao item anterior, certamente provocou uma concentração maior de indivíduos em uma área mais reduzida, gerando em conseqüência, um aumento de competição inter e intra-específica. Essa ação provavelmente determinou uma redução populacional das espécies que habitavam o biótopo formado pela vegetação do sub-bosque do pinus, no entanto, pouco significativa a ponto de desestabilizar a dinâmica populacional dessas espécies para a área da fazenda.

7. CONCLUSÕES SOBRE A PESQUISA COM A AVIFAUNA


Os estudos apresentados neste trabalho são fidedignos de diferentes interpretações e estudos de caso diferenciados. Entretanto o propósito deste é apontar a importância da analise da avifauna em relação ao ambiente e a preservação das espécies. Não somente o EA RIMA deve ter atenção na interpretação da avifauna local, mas até mesmo os mais simples processos de supressão de vegetação, ou ainda a averbação da reserva legal devem estar associados a manutenção do ambiente em sua conectividade garantindo a preservação das espécies, principalmente as mais exigentes com a qualidade do habitat. O estudo aqui proposto demonstrou que muitas aves são generalistas e se demonstraram com plasticidade de ocupação ambiental, ou seja, não são tão criteriosas quanto ao modelo de floresta apresentado. É certo que estas aves são minoria frente a formação original da formação florestal. É importante frisar que os ambientes apresentavam características comuns de sua classificação, onde mesmo sendo um estágio inicial, médio ou avançado, sempre foram preservadas as formas de regeneração natural ou de vegetação de sub-bosque. Estas características foram de extrema importância, pois proporcionam o ambiente ideal para a manutenção de diferentes espécies de avifauna, que idubitalvemente precisam dos baixos estratos de florestas para reproduzir e se alimentar e ocupar o território que o cabe conforme observado nas capturas de campo e movimentação das espécies. Portanto analisar uma floresta apenas com árvores em estágio avançado, sem observar o sub-bosque é oportunizar espaço apenas para as aves que freqüentam as copas de árvores. O próprio estudo demonstrou que a formação de vegetação de sub-bosque no Pinus com manejo de dois desbaste, demonstrou algumas aves que transitavam pela floresta plantada. Contudo os ambientes mais preservados revelaram importantes espécies que em formação de ambiente mais alterado, menos preservado, não sobreviveriam como exemplo o tovacuçu-malhado Gralaria varia; choquinha-estrelada Myrmotherula gularis. Contudo ainda é pertinente ressaltar que a fazenda referida de estudo com cerca de 2.800ha e com quatro sítios distintos de analise, sempre apresentaram repetições de indivíduos capturados, conforme identificação nos 2,6 anos de trabalho, mas jamais uma ave capturada em um determinado sítio, foi capturada em outro sítio, deve-se ressaltar que este local apresentava recuperação das áreas de APP e não eram todos os locais que apresentavam a efetividade de conectividade por área.


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NAROSKI, T. & YZURIETA, D. 1987. Guia para la Identification de las Aves de Argentina Y Uruguay., Vasquez Mazzini editores, Buenos Aires, Argentina. 344p.

ROSÁRIO, L. A. 1996. As Aves em Santa Catarina. Distribuição geográfica e meio ambiente. FATMA, Florianópolis – SC. 326p.

BELTON, W. Aves Silvestres do Rio Grande do Sul. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.., Porto Alegre. 2004. 175p.

SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, Rio de Janeiro. 828p.

ANDRADE, M. A. de. A Vida das Aves. Introdução à biologia e conservação. Editora Líttera Maciel, Belo Horizonte 1993. 160p.

STOTZ, D. F. ; FITZPATRICK, J. W. ; PARKER III, T. A. & MOSKOVITS, D. K. 1996 Neotropical Birds. Ecology and Conservation. The University of Chicago Press, Chicago – USA. 480 p.