ÍNDIOS DE PAZ E GUERRA em Santa Catarina
Causos do passado e fatos
verdadeiros, transcendem nas rodas de amigos, e ultrapassa gerações que guardam na memória as histórias de Basílio
Dutka (in memória). Basílio foi morador de uma localidade próxima de Bom Sucesso (que fica
após Moema/Itaiópolis), pelo ano de 1912 quando ainda era muito jovem, mas
ele morava isolado na vegetação nativa, com pouca área para lavrar e um pequeno
espaço para pastagem.
Neste local a presença dos índios sempre foi constante, e Basílio até aprendeu algumas palavras na língua do Xokleng. Certo dia Basílio foi
visitado por alguns índios, curiosos pelo seu almoço, feijão e carne. Basílio
ofereceu para eles levarem, mas não tinha uma vasilha, rapidamente um dos índios
entrou no mato e com folhas entre postas e entrelaçadas de caeté, providenciou
um compartimento semelhante a uma gamela. Após alguns dias os índios voltaram
no crepúsculo do amanhecer, entraram na casa e colocaram sobre a mesa um pedaço
de carne de porco do mato e de veado, e saíram correndo passando um pedaço de
galho nas tábuas da casa, que ao atritar nas emendar fazia o som repetido tec, tec, tec...., fazendo Basílio acordar e receber a surpresa do presente. Esta era uma das brincadeiras que os índios gostavam de fazer, e depois davam gritos curtos e agudos, como expressão de felicidade. Na propriedade do Basílio, no entorno da casa, de tempos em tempos faziam alguma brincadeira, como de prender um novilho na cerca e a vaca em outra, ou tirar o porco do chiqueiro prendendo este no galinheiro, ou ainda de provocar entre os morros o disparo de várias flechas, que voavam assobiando por sobre a casa.
Mas esta aproximação com os índios ocorria muitas vezes de forma repentina,
outro dia Basílio estava atrás de uma caça andando pela floresta, mas de forma
inesperada, caiu na armadilha dos índios, que o suspenderam com cipós por entre
as copas.
Os índios não deixavam trilhas, e um dia Basílio saiu para caçar e se surpreendeu ao entrar sem querer em um "acampamento" de índio, sendo recebido por uma irara adomesticada pelos índios, porem agressiva aos estranhos.
Os índios não deixavam trilhas, e um dia Basílio saiu para caçar e se surpreendeu ao entrar sem querer em um "acampamento" de índio, sendo recebido por uma irara adomesticada pelos índios, porem agressiva aos estranhos.
Mas nunca existiu
confronto ou desentendimento do Basílio com os índios, muito pelo contrário,
existia uma aproximação festiva e de bom relacionamento.
Mas Basílio não
esquece de uma história que ocorreu no passado, antes mesmo de sua residência na região, história que também foi passada pelo seu neto
(“Fritz” Nelson Dutka). As famílias de agricultores de Itaiópolis faziam o “pixirum”
no qual todos se ajudavam, trabalhando em conjunto em uma propriedade, passando
para a próxima, próxima, e assim todos tinham segurança no momento de plantio
ou colheita, com rendimento do trabalho, não existia cobrança pelo serviço, mas o compromisso de ajudar o próximo. Mas num determinado dia os homens saíram
para fazer o “pixirum”, e os índios invadiram suas casas perseguindo e matando
mulheres e crianças, mas duas mulheres se esconderam em uma árvore e
presenciaram tudo. Na volta dos homens foi relatado o ocorrido, e se instalou
uma fúria de raiva, ódio e vingança. Os homens se organizaram em um grupo
armado e foram na busca dos índios, após muitos dias de procura encontraram a
aglomeração de índios. Estes estavam organizados com vigilantes no entorno do “acampamento”,
mas estavam todos dormindo, os vigilantes encostados nas árvores, dormindo
sentados. Os homens vingativos entraram silenciosamente, cortaram o “cordão”
dos arcos, e iniciaram proferindo golpes de fação no pescoço dos vigilantes e assim
se estendeu a matança que, segundo relatos, passou de centenas de índios, de tal
forma que após alguns dias era possível sentir o cheiro dos cadáveres, mesmo
que de muito longe. HOMENS DE PAZ E DE GUERRA.