domingo, 15 de dezembro de 2013

DEPOIMENTO DE LEONI FUERST


DEPOIMENTO DE LEONI FUERST
Consórcio Quiriri – A Busca por um espaço cotidiano de cidadania

Em se tratando de modelos de administração pública brasileira, os consórcios intermunicipais têm representado grandes avanços e indicadores de amadurecimento político na gestão socioambiental dos municípios brasileiros. Neste sentido, o Consórcio Quiriri efetivou-se, ao longo de sua história, como ferramenta de mudança social e ambiental, pois apoiou-se na força da participação através da união de pequenas, mas significativas forças individuais, possibilitando promover melhorias progressivas e sensíveis na qualidade de vida dos seres humanos e demais seres vivos que nos circundam. Entendo que não se trata apenas de um agregador de ideias e soluções pontuais compartilhadas, mas sim, de uma efetiva ferramenta de mudança social e ambiental que necessita, ainda, ser entendida como tal, apoiada e praticada. Foi neste intuito que sempre buscamos ordená-lo e torná-lo compreendido como uma entidade cívica e suprapartidária. Apesar de digno de elogios por mobilizar forças políticas e sociais divergentes e heterogêneas em torno do objetivo maior, evidentemente, estabelecer um cenário favorável à cooperação entre as prefeituras nem sempre foi tarefa das mais fáceis. As trocas de governo demandam sensibilização e superação de rivalidades partidárias históricas e divergências ideológicas inerentes à prática democrática. Este exercício suprapartidário resultou num amadurecimento político do cidadão, de grande êxito. Como ressaltara o próprio professor Pedro Hidalgo, a metodologia proposta previa “desdobramentos na construção da cidadania (conscientização de direitos e deveres) e do exercício constante da participação positiva em fóruns organizados, elevando a posição do participante de indivíduo para um cidadão integrado socialmente em sua comunidade.” (Hidalgo, 1995) Gosto muito desta citação. Conheci o professor Pedro Hidalgo antes mesmo do Quiriri. Eu, acadêmica em Blumenau e bolsista de pesquisa, integrei um grupo que estudava a possibilidade de atuação em consórcio em 45 municípios do Vale do Itajaí. De volta à região onde nasci, após ter concluído mestrado, tive o prazer de reviver a experiência de planejamento ambiental participativo proposta por ele. Dessa forma, tendo a participação como exigência primeira para se alcançar a efetividade em projetos de gestão, contribuí na articulação do Consórcio. O suporte para tal consistiu em esforços institucionais, metodológicos, econômicos, políticos, técnicos e acadêmicos. Um dos textos que melhor define esse suporte é de Elisabeth Siervi (UFSC), que caracteriza nossas forças locais como:
A Força da Metodologia em Ação, que direciona e propõe diretrizes estruturais dinâmicas para implementação de ações, além de explicitar e oferecer meios de efetivação para a participação ativa dos poderes legislativos e executivos locais, buscando nos apoios institucionais os caminhos que possibilitem a viabilidade técnica e política das propostas locais. A Força dos Atores Locais (os indivíduos), que através de ações próprias e criativas têm conseguido avanços originais e inovadores dentro de diferentes campos de atuação, tanto no que se refere às implantações de programas e projetos quanto no estabelecimento de espaços de discussão e troca de experiências em diferentes esferas de atuação (local, regional e nacional), que muito tem contribuído para difundir e dinamizar suas ações, criando uma perspectiva descentralizada de gestão. A Força da Personalidade Local, que expressa a particularidade (originalidade) com que a sociedade local trata (recebe, repropõe, reorganiza, incorpora ou rejeita) as estruturas das metodologias participativas. A Força do Cotidiano, que muitas vezes nubla as ações planejadas mas, por outro lado, oferece uma riqueza de acontecimentos, esperados ou inesperados, que dão novos rumos à ação local. (Enquadramos nesta categoria o tema resíduos sólidos) A Força da Estrutura Participativa Local, onde está expressa a forma de tratamento local para a dinâmica participativa. Quando esta força é devidamente percebida, respeitada e incorporada pelas metodologias participativas, transforma-se num importante elemento potencializador da ação local.

Dessa forma:
• Não existe solução puramente TÉCNICA ou ECONÔMICA;
• Não existe solução SIMPLISTA;
• Não existe solução INSTANTÂNEA;
• Não existe solução que seja responsabilidade de UM SÓ SETOR DA
SOCIEDADE;
• Não existe solução POSSÍVEL DE SER COPIADA;
• Não existe solução DISSOCIADA DO PROBLEMA LOCAL.

Desenvolvemos o trabalho local apoiados sobre estes princípios. Aprendemos que para se envolver na dinâmica participativa, deve-se construir um espaço de articulação includente, no qual esteja presente toda capacidade de negociação, aceitação das diferenças e das dificuldades, dos direitos e deveres, além de exigir muita criatividade e bom senso. Tanto na esferaindividual quanto na coletiva, tanto na pública quanto na privada, tanto na local quanto na global. O espaço cotidiano da cidadania.


Leoni Fuerst - Bióloga CIQ

Fonte: MAIS QUE UMA GOTA - Magno Bollmann
Colaboração: Marcelo Hübel
Donald Malchinski