sexta-feira, 31 de outubro de 2014

BENDLIN - Monumento de São Bento do Sul


KARL WILHELM BENDLIN

Karl Wilhelm Bendlin partiu do porto de Hamburgo em 29 de dezembro de 1873, acompanhado da esposa, Wilhermine, e dos seus quatro filhos. Em 1874 os passageiros que estavam a bordo do navio desembarcaram na Colônia Dona Francisca e seguiram em direção a São Bento do Sul. Aqui, Bendlin adquiriu o lote colonial número 30, na Estrada Wunderwald. Naquele mesmo ano, o imigrante faleceu e, como não havia cemitério, foi enterrado no seu próprio terreno, perto de sua casa. Como foi um dos primeiros colonos a falecer na cidade, a sua esposa teve muita dificuldade em achar um caixão e realizar o sepultamento. Apenas alguns dias depois, com a ajuda dos trabalhadores que estavam sob as ordens do engenheiro Alberto Kröhne, a 20 quilômetros de distância, ela conseguiu fazer o funeral. Junto à sepultura, a viúva Bendlin plantou uma árvore, acoplada a tumba há mais de 100 anos. (A GAZETA, 29/10/2014 Layra Olsen).

Livro: São Bento no Passado Conforme diários reunidos por Josef Zipperer sem 1945. Pg 33;34;35.

Em 1874, teve lugar o primeiro sepultamento em São Bento, do qual resultou fosse eu, oficialmente, designado, pela Administração, para o cargo de fabricante de caixões funerários.

Vou contar este episódio.

No correr daquele ano, estávamos trabalhando na abertura da estrada Dona Francisca, quando, uma tarde, pelas duas horas, apareceram as senhoras Bendlin e Hackbarth, moradoras na estrada Wunderwald, e, debaixo de lágrimas e lamentos, comunicaram-nos a morte do marido da primeira.

Esta mostrava-se ainda mais aflita, pelo fato de não haver nenhum homem nos arredores, que a auxiliasse no enterro, empreendimento que, sozinha, não poderia realizar. Já não chorava mais pela perda do esposo, mas sim, porque ainda não lhe tivesse dado um sepultamento cristão, pois, falecera há mais de três dias e do morto, que ainda permanecia, intocado, em seu leito, já se desprendia um horrível mau cheiro. No primeiro dia tinha procurado os vizinhos para o lado da estrada Dona Francisca, onde esperava encontrar seus conterrâneos, da Pomerânia. Todos os homens, no entanto, estavam trabalhando uns trinta quilômetros adiante de Campo Alegre. No segundo dia correu toda a Estrada Wunderwald, sem achar um homem sequer , e, no terceiro dia, abriu, ela mesma, uma cova, a dez passos da sua palhoça, correu, com a referida sua vizinha a sede do núcleo, ao vendeiro Reusing, que indicou então as duas mulher a picada onde trabalhávamos, sob as ordens do engenheiro Alberto Kröhne.

Seja dito de passagem, aos que não conhecem a região nem as distâncias, que o percurso da morada da Sra. Bendlin até o local do nosso trabalho, era de uns vinte quilômetros, todo ele por picadas, que mal permitiam o trânsito de pedestres.

O Snr. Kröhne, prontamente, me incumbiu de acompanhar as mulheres a sede, de pedir a Direção as necessárias tábuas e de fazer o caixão, para enterrar o defunto tão logo quanto possível.

Voltei com elas até a casa de meu pai, onde morava e onde dispunha das indispensáveis ferramentas.
Ao anoitecer o caixão estava pronto, muito embora nunca tivesse feito um em minha vida; era de tábuas rachadas, da grossura de três centímetros e nada secas. Tábuas serradas ainda não se tinha. Saiu pesadíssimo e agora restava-nos, a mim e as duas mulheres, carregar este peso por mais de sete quilômetros, através do mato, pelo picadão das mulas de tropas. Creio, que descansamos umas cem vezes, e, assim, passava de meia-noite, quando chegamos ao nosso destino.

Um vizinho doentio, o velho Gatz e um filho de Bendlin, de seis anos, velavam o defunto, que tinha entrado em franca decomposição, pois falecera há quatro dias. Os dois alimentavam uma grande fogueira, cujo forte clarão emprestava a cena um aspecto espetacularmente lúgubre.

Ninguém quis, ou pode me ajudar, a pôr o cadáver dento da minha verdadeira obra prima de caixão, tão pavoroso era o cheiro, que aquele exalava; portanto, tinha que agir sozinho. Encostei o caixão aberto ao lado do morto e fiz rolar este para dentro dele não sem antes encher bem o meu cachimbo, para soltar baforadas enorme, afim de insensibilizar, o mais possível, o meu órgão olfativo.
Se já o caixão vazio era pesado, agora, que recebera o defunto, foi simplesmente impossível carrega-lo a sepultura.

Trancei, pois, uma corda de taquara, que nele amarrei, e, enquanto eu ia puxando, as mulheres empurravam, e, deste modo, conseguimos arrasta-lo até a cova já aberta, na qual, com outras tantas dificuldades, fizemo-lo, enfim, baixar. Fechamos a sepultura e depois de uma prece em conjunto, caminhei, inteiramente exausto, de volta para casa, onde cheguei ao clarear do dia.

A viúva Bendlin plantou, a cabeceira da sepultura, um pinheiro, que é hoje uma bela e alta árvore, de quase quarenta anos, e, toda vez que por lá passo, faz me lembrar aquele enterro noturno, cercado de tantas dificuldades.

Livro: Joinville Os Pioneiros II Documentos e História – 1867 a 1881 pg 298 e 299
Maria Thereza Böbel e Raquel S. Tiago
Editora Univille 2005

Navio Elwwod Cooper – 29/12/1873

Após a partida de Hamburgo, o Elwood Cooper foi assaltado pelo cólera. O navio ficou de quarentena em Cuxhaven. Infelizmente 10 passageiros faleceram ainda no Elba.

Neste navio estavam os imigrantes da família de Wilhelm Bendlin (44 anos Operário de Tempelburg – Pomerânia – Religião Protestante) com a esposa Wilhelmine (40 anos) e os filhos: Caroline (16 anos); Carl (15 anos); Louise (9 anos) e Albert (6 anos).
Ainda neste navio vieram outros da família Bendlin sendo Ferdinand (40 ANOS Alfaiate de Tempelburg – Pomerânia – Protestante – Res. No Caminho do Meio falecendo em 3/6/1917) viajou com a esposa Wilhelmine (35 anos – nascida em 15/3/1837, Lindow, Pomerânia. Res. No Caminho do Meio. Falecida em 22/4/1911.

Colônia Dona Francisca. No dia 16 de outubro foi expedido de Hamburgo o navio “Elwood Cooper”, capitão Höpken, trazendo a bordo imigrantes para Dona Francisca. Além destes, traz ainda 156 colonos para Blumenau e 17 par a Colônia Itajaí. Daqueles 133 destinados para cá, são: 89 alemães (85 da Prússia, 2 da Saxônia, 1 de Mecklenburg, 1 de Hamburgo), 35 dinamarqueses, 6 austríacos, 4 suecos; 70 são do sexo masculino, 63 do feminino; 9 são católicos, 124 protestantes; 65 são adultos, 68 menores de idade; 88 têm mais de 10 anos, 35 tem de 4 a 10 anos, 10 menores que 4 anos. O total divide-se em 22 famílias e 21 solteiros. Quanto as profissões há entre eles: 4 sapateiros, 2 marceneiros, 1 alfaiate, 1 comerciante, 2 ferreiros e 1 carpinteiro; os outros são lavradores. Infelizmente, uma carta de 22 de outubro, expedida logo após a partida do navio, noticia que a bordo dele se desencadeou o cólera, e o navio foi obrigado a ficar em quarentena em Cuxhaven (Kolonie Zeitung, 29/11/1873).

Colônia Dona Francisca. No dia 29 de dezembro aportou em São Francisco o navio “Elwood Cooper”. Entre os passageiros há cerca de 120 destinados à Colonia Dona Francisca. O estado de saúde geral é bom (Kolonie Zeitung, 3/1/1874).
Colônia Dona Francisca. O navio “Elwood Cooper”, aportado em 29 de dezembro em São Francisco, trouxe para cá 123 pessoas (outras 10 pessoas faleceram ainda no Elba, vitimadas pelo cólera). Destas somente 87 vieram para Joinville, visto que 32 irlandeses e uma família sueca de 4 pessoas seguiram de São Francisco imediatamente para a região de Curitiba. O navio tinha ainda a bordo 182 colonos para Blumenau e Itajaí. Houve algumas queixas contra o tratamento e alimentação durante a viagem (Kolonie Zeitung, 10/1/1874).

Colônia Dona Francisca. No dia 5 de abril deve ter sido expedido de Hamburgo o navio “Friedeburg”, capitão E. Koper, com imigrantes para Blumenau, Leopoldina e Dona Francisca. Até 5 de março havia 160 inscritos para Blumenau e 25 para Dona Francisca (Kolonie Zeitung, 2/5/1874)

Ainda sobre Wilhelm BENDLIN consta:
Anúncios: À venda: diversos objetos em bom estado, tais como: colchões, roupas femininas e masculinas, toalhas de mão e mesa, uma peça de linho, 2 relógios de pulso, ferramentas de marceneiro, plaina, formão, furadeira etc., por preços extremamente baratos. Tratar com o alfaiate Bendlin, perto do Cemitério Evangélico (Kolonie Zeitung, 17/4/1880).



OUTRAS INFORMAÇÕES

Sepultura/Monumento/Propriedade Pública: Coordenadas 26°13'57"S   49°20'14"W. Endereço R. Karl Wilhem, s/n.

1873 – Karl Wilhelm Bendlin emigrou de Tempelburg na Pomerânia no dia 10 de outubro aos 44 anos de idade, com a esposa Wilhelmine, chegando na Colônia Dona Francisca (Joinville) em 29/12/1873.

1873/74 – Falecimento de Karl Wilhelm Bendlin. Falecimento do 1º imigrante que se instalou em São Bento do Sul como morador?

1948 – Solenidade no monumento com celebração do pastor Adolf Prinz da Igreja Evangélica de Confissão Luterana.

1991 – Sepultura cadastrada como valor histórico do Município de São Bento do Sul.

2003 – Rotary Club restaura a sepultura no dia 28 de maio no ano em que São Bento do Sul comemorava 130 anos de fundação.

2014 – Pauta do dia 27/10/14 - 53ª Reunião Ordinária - 17ª Legislatura - 2º Ano Legislativo - 24. Indicação nº 858/14 – Claudiomar Wotroba - Ao Executivo, com cópia a Secretaria de Planejamento e Urbanismo e Secretaria de Obras solicitando a restauração e limpeza do monumento em homenagem ao Imigrante Karl Wilhelm Bendlin, localizada na Rua Augusto Hackbarth, no Bairro Brasília;
Fonte: http://www.cmsbs.sc.gov.br/sessoes

2014 - Na data de 03 de novembro de 2014 o Historiador Antônio Dias Mafra, faz importantes revelações no jornal A Gazeta na "Carta do Leitor":

Lápide de Wilhelm Bendlin
Sou professor Antônio Dias Mafra, do curso de História da UnC e fiz um levantamento rápido para o vereador Wotroba - me deram o recado as 11 horas e às 14 horas precisei entregar. Mas uma coisa me chamou a atenção depois que entreguei o resumo, o nome não confere. Fiz pesquisa no arquivo histórico de Joinville, no Livro sobre os pioneiros publicado pela Univille e verificou-se que o nome do registro do imigrantes era Wilhelm Bendlin, sem o prenome Karl.
Como ele só se tornou conhecido em 1935, quando o Josef Zipperer publicou o seu livro São Bento no Passado, narrando o enterro de Bendlin, é que o povo de São Bento resolveu homenagear o primeiro imigrante a morrer em terras de São Bento do Sul, mas isto somente ocorreu em 1948, 75 anos após a fundação da Colônia.
Na época, o único documento que descreveu o passamento era o livro de Zipperer e foi com base nele que a comunidade evangélica se mobilizou para fazer um monumento lembrando do fato.
Quanto aos falecidos em São Bento, relacionados por Pfeiffer, no livro sobre a comunidade evangélica de São Bento, constam: Johann V. Wilke, com 65 anos, falecido em 17 de fevereiro de 1874, Franz Zipperer, falecido com 16 anos e meio, em fevereiro de 1874, Michael Witt, falecido com 50 anos, em 11 de março de 1874 e Joseph Baierl, falecido com 19 anos, em 14 de março de 1874.
Portanto ele também pode não ser o primeiro imigrante enterrado em São Bento. Pfeiffer não consegui encontrar a data do falecimento de Bendlin, e talvez ninguém consiga pelas circunstâncias em que ocorreu.
Sobre o fato da divergência do nome, devido ao longo tempo que passou da sua morte para a homenagem, e como o terreno em 1984 pertencia ao seu filho Carl, pode ter havido confusão e utilizado o nome do filho, na frente do nome do pai. Está aberta uma boa discussão, ainda mais com a proximidade do dia dos mortos. (Por: Antônio Dias Mafra)


INFORMAÇÕES ADICIONAIS DE KARL WILHELM BENDLIN

ZIPPERER, Josef. “São Bento no Passado” Reminiscências da Época da Fundação e Povoação do Município. Tipografia João Haupt & Cia Ltda. Curitiba, 1954.

http://br.geoview.info/lapide_do_karl_wilhelm_bendlin,30068012p

https://saobentonopassado.wordpress.com/tag/imigrantes-pioneiros-de-sao-bento-do-sul/