quarta-feira, 29 de maio de 2013

Revolução Federalista 1893 - PIONEIROS

O ano de  2013 nos separa em 120 anos do início da Revolução Federalista, que durou por alguns meses, deixando rastros desoladores de dores, perdas e marcas para a história.

Nesta postagem,  que é parte do livro “Pioneiros”,  destaco a Revolução Federalista do início ao fim.

É um resumo do movimento em nível nacional, e do envolvimento dos habitantes de São Bento.

Pela primeira vez está sendo transcrito partes do diário do Dr. Felippe Maria Wolff, apresentando o cenário sangrento de alguns dias de guerra na cidade da Lapa.

As fotos com legenda são um complemento do texto, para formação do imaginário, retratando a época.


Mais um momento onde a “Grande História” envolve os pioneiros de nossa terra.




REVOLUÇÃO FEDERALISTA 1893
 

Marechal Deodoro da Fonseca, então presidente do  Brasil, passando por difícil doença, renuncia. O vice-presidente, militar Marechal Floriano Peixoto, assume. Tinha em suas mão uma árdua tarefa, pois o país passava por terrível crise, a imprensa o atacava constantemente, o descontentamento da população era manifestada em todas regiões do país. O presidente do senado, o federalista Prudente de Moraes é bem visto para assumir a presidência.  As divergências entre os partidos Republicados e Federalistas crescem chegando ao extremo, e se instaura o estado de anarquia absoluta.
Livro "PIONEIROS" - Autor: Marcelo Hübel
No Rio Grande do Sul, sucumbe a derrota nas urnas e a revolta pela situação deplorável que se encontrava a população, crescendo o desejo do poder tomado a força.
Duas facções separaram-se em campos de batalha diferentes, irmãos de origem e sangue que digladiavam-se por ideais opostos. Os gaúchos que seguiam o federalista e ex-liberal Gaspar Silveira Martins se opunham ao governo republicano Júlio de Castilhos, e se revoltaram, liderados pelo general João Nunes da Silva Tavares, o qual oficializou a revolta através de um manifesto a nação brasileira de 15 de março de 1893. Apesar do movimento já se esboçar desde finais de l892.
“Do lado dos revolucionários tomaram parte na Revolução de 93 muitos uruguaios, alguns dos quais do Departamento de San José, os chamados “Maragatos”. Aos poucos este termo foi sendo usado para designar todos os revolucionários que usavam como o símbolo o lenço vermelho ao pescoço.” (FAGUNDES, 1994).
Do outro lado eram os legalistas, governistas, alcunhados de "chimangos" ou "pica-paus" e emergiam mais comumentemente o lenço branco ou ainda o verde. Também utilizavam a farda e quepe azul este com uma borda vermelha, que lhes deu o apelido de “pica-pau”.
 Dentre os "maragatos" mais importantes estava o guerrilheiro "Napoleão dos Pampas", o "General da Liberdade", que foi regido pelos historiadores como o maior e mais carismático general sul-americano, um verdadeiro herói, Gumercindo Saraiva, que seguia sua ideologia com outros maragatos: Custódio de Melo; Aparício Saraiva; Laurentino Pinto Filho e Joseraphin de Castilhos o temido “Juca Tigre”.
 “Perseguidos pela Divisão do Norte, composta por republicanos, os Maragatos deixaram o solo gaúcho para, articulados com a Marinha, formarem um Destêrro (atual Florianópolis) um governo provisório.” (BORGES DA SILVEIRA, et al 2006). O governo do estado de Santa Catarina que então já havia se desentendido com o Marechal Floriano, apóia os federalistas, e a capital quando recebe os revolucionários os recebe com festa.
                  Em Joinville os revolucionários recebem apoio de Abdon Batista que controlava o executivo municipal.  Mas os relatos de Alexandre Döhler, integrante do Bombeiros Voluntários, e seu comandante Felix Heinzelmann mostram descontentamento com a posição que a cidade tomava, embora as ordens de Abdon, se restringiam em zelar pela cidade e instituir a ordem. A entrada das tropas ocorre pela água de navios e vapores apreendidos. A primeira intenção é cortar a comunicação interrompendo a ligação teleférica principalmente com o Rio de Janeiro. Mas os dias em que as diversas tropas revolucionárias passaram por Joinville causaram reações e impressões das mais diversas, figurando entre o medo da ação dos revoltosos frente ao saque, ordens de recrutamento, mortes. Ma também outros demonstravam uma reação festiva e solidária. A primeira tropa que entrou na cidade de Joinville no dia 1º de novembro de 1893 foi a de Piragibe muito bem recebida por Abdon Baptista e pelos moradores da cidade que vinham ver o espetáculo militar. “Os revolucionários libertaram vários civis prisioneiros que tinham recrutado. Nesse Ínterim, parte da tropa se espalha na cidade e requisitava cavalos (FICKER, 1973).
A segunda tropa entrou no dia 23 do mesmo mês ao comando de Serafim de Castilhos, o Juca Tigre, terrível destemido, que ficou conhecido como o impiedoso degolador. Chegaram em Joinville de bote, e pelos combates que já passaram, eram representações deploráveis. Conforme relato de Félix Heinzelmann “Que aspecto deprimente oferecia esta gente; não pareciam gente civilizada, mas antes, selvagens. Uns 40 não podiam sair das embarcações por estarem totalmente nus.” “Os outros, rasgados e maltrapilhos, um pedaço de pano envolvendo o tronco, formando uma espécie de bombacha.” “No acompanhamento uma multidão de mulheres maltrapilhas, sujas, e seus filhos. E estes gaúchos do interior do Uruguai, pois a maioria falava o espanhol...”. No começo de dezembro chega a 3ª tropa agora com o General Gumercindo e o irmão Aparício Saraiva, mas neste primeiro instante com apenas 500 homens. No dia 26 de janeiro de 1894 o General Gumercindo parte em direção ao Paraná,  ficando para traz a lembrança de dias duvidosos pela segurança da cidade e a perda dos bens materiais daqueles moradores, alguns ficaram sem suas carroças, bois cavalos.



Foto no livro Pioneiros: O terceiro homem da esquerda para direita, de longas barbas é o destemido “Juca Tigre”. No centro o famoso degolador Adão, com um prisioneiro. Tropa que seguia em direção ao planalto.(AHSBS)


“A 13 de outubro, o Dr Abdon Baptista, que se encontrava em São Francisco, anunciava a chegada de 51 homens, armados com uma “Mitrailleuse”, a bordo do navio “Pallas”, vindos de Desterro para proteger Joinville contra a invasão de forças legais armadas e procedentes de Curitiba. Tratava-se da tropa do general Argolo que, por esse tempo, vinha chegando de Curitiba pelo caminho de Rio Negro, seguindo então pela Estrada Dona Francisca rumo a São Bento, onde chegou a 11 de novembro (FICKER, 1973). Os Maragatos tendo em frente o General Piragibe chegam em Joinville. “Os revolucionários libertaram vários civis prisioneiros que tinham recrutado. Nesse ínterim, parte da tropa se espalhava na cidade e requisitava cavalos. (FICKER, 1973).
“São Bento estava localizado numa das grandes vias de penetração para o interior e não demorou que se ouvisse falar da aproximação de tropas, ora legais, ora revolucionarias.(ZIPPPERER, 1954).
         O General Piragibe deixa Joinville com aproximadamente 300 homens e segue para o Planalto Norte e conseqüentemente São Bento.
“Enquanto esses acontecimentos se iam desenrolando em Joinville, São Bento foi pela primeira vez ocupada por forças, quando o General Argolo chegou com a tropas legais de Curitiba. Alarmando a população, que resolvera defender-se de possíveis saques a pilhagens, reuniram-se em Lençol os homens válidos da Colônia e armaram-se como puderam, dispostos a tudo”(FICKER, 1973)
“Com a chegada da Coluna Argolo, a 6 de novembro de 1893, ao objetivo, Wolff apresentou-se a Lauro Muller, que o indicou ao comandante como fiel correligionário. Argolo nomeou-o autoridade absoluta em São Bento e instaurou em sua casa o governo legalista de Santa Catarina e o Quartel General de suas forças”(VASCONCELLOS, 1991).


Foto no livro Pioneiros. Parte da tropa do General Argolo. No segundo plano da direita para esquerda, de óculos e bigode o Dr. Felippe Maria Wolff. (AHSBS)

Dr. Felippe Maria Wolff (AHSBS)
 “O diário do Dr. Wolff que inicia em 31 de outubro consta o registro que deixava a cidade às cinco horas da tarde, em companhia de Alberto Malschitzki, chegando a Rio Preto (SC) na manhã de 1º de novembro, de onde seguiu para Rio Negro (PR), onde chegou na tarde desse mesmo dia. Dia 2 de novembro, a noite, recebe notícias de que o General Francisco de Paula Argollo, então comandante das forças florianistas no Paraná, estava na localidade denominada Rio da Várzea no interior da Lapa, e que Lauro Muller, procedente do Cerro Verde, encontrava-se em viagem para São Bento com intenção de consulta-lo. O dia seguinte foi muito movimentado, as três horas da madrugada, o médico deixou Rio Negro, chegando a Rio Preto, onde ocorreu a troca de cavalos, possibilitando a continuação da viagem em uma carruagem mais leve e mais ligeira. Passa por lençol e Oxford, sendo que nesta última localidade a comitiva faz uma parada e Agostinho e Miguel Fragoso vem ao seu encontro, informando que trezentos homens estão a caminho de São Bento. Chega o Dr Wolff a São Bento as cinco da tarde e um pouco depois da meia-noite, recebe carta de Lauro Muller e constata a existência de trinta soldados de infantaria, do 17º batalhão, sob o comando do Capitão Teodorico e integrado por mais dois oficiais de engenharia. A meia-noite, um próprio de São Bento traz a informação de que trezentos homens procedentes de Campo Alegre chegam ao lugar. Lauro Muller volta a Rio Negro e o Dr. Wolff segue para São Bento, ao encontro de Argollo. Na noite de 5 de novembro mantêm negociações com Argollo, Campos, Poeta, Schidt, Blum e outros. No dia seguinte, 6 de novembro, chegam a São Bento as forças florianistas, concentrando-se no campo dos Rickers,. Instala-se o Quartel-General na casa do Dr. Wolff, a quem Argollo nomeia prefeito da localidade. No dia 13 de novembro Wolff em Oxford, encontra as tropas em retirada apressada para Rio Negro. Argollo e Lauro explicam-lhe que a retirada apressada para Rio Negro é estrategicamente indicada. É “convidado” a unir-se as forças florianistas. Volta apressadamente a São Bento, exortando os colonos, no caminho, a levarem o gado para bem longe, evitando sua arrecadação pelos federalistas.” (Tradução: Francisco Brito de Lacerda, 1973).
A rápida retirada é evidentemente necessária, tendo por necessidade a guarda da república o General Argolo que estava indo de encontro a tropa Piragibe, pela Estrada Dona Francisca, enquanto a tropa Maragata descia a serra do Gatz em Campo Alegre, desfaz o  possível confronto porque recebe a informação de outra frente de revolucionários liderados  por Gumercindo Saraiva marchavam em direção a Lapa.
“Com as quedas de Tijucas e Paranaguá, no Paraná, seguindo a tomada sem resistência de Curitiba, a Lapa passava a ser o único obstáculo para as forças contrárias a República.” (BORGES DA SILVEIRA, et al 2006), que marchavam confiantes na direção do Rio de Janeiro, a fim de derrubar o Marechal Floriano Peixoto.
Enquanto a população segue os conselhos do Dr. Wolff que se escondem e protegem a criação da melhor forma. Entraram as tropas revolucionárias em São Bento. “Uma vez São Bento em mãos dos revolucionários, estes imediatamente nomearam autoridades em seus simpatizantes. Não tardaram, porém, as violências e coações. O “Batalhão Patriótico” ao qual “voluntariamente” muitos habitantes tiveram que aderir, bem como por seus bens a disposição do ‘Governo Federalista” e “Libertador do Brasil”, requisitou sem quaisquer formalidades cavalos, gado, viaturas e muitas vezes os próprios proprietários eram obrigados a prestar seus serviços como condutores.” (FICKER, 1973). Os revolucionários, estes imediatamente nomearam autoridade em seus simpatizantes. Não tardaram, porém, as violências e coações.
Segundo Félix Heinzelmann os mais destacados partidários do Governo fugiram junto com suas famílias. Das casa de um deles, o doutor Wolff, Piragibe recolheu tudo o que havia de valioso, e junto também, os medicamentos da farmácia. A mobília e também o prelo de uma pequena tipografia foram destruídos. De São Bento, Piragibe com sua força aumentada por  cerca de 250 homens da Guarda Nacional, formada localmente pelo Presidente da Câmara federalista e composta de nativos e poloneses, se destacou  até Rio Negro, onde, inesperadamente, na manhã seguinte foi recebido com bala de canhão.”(SILVA, 2002).
Os revoltosos, Maragatos, batiam nas casas e os homens jovens eram forçados a acompanhar a revolução. Entretanto, nem todos eram simpatizantes, e muitos não tinham o conhecimento da causa, ou ainda o desejo de se envolver com o conflito. Virgínio Soares Fragoso já era bastante idoso e provavelmente não seria requisitado para a revolução, mas ficava escondido na intenção de ajudar no fornecimento de alimento, auxiliando assim seus parentes. Eles ficavam resguardados numa pequena ilha, formada pelo Rio Negro.
Também ocultavam a criação, evitando que os revolucionários matassem o gado para saciar a fome, e levavam os cavalos para serem usados na revolução.
As noites no acampamento tornavam-se muito frias porque não podiam acender o fogo, a fumaça poderia revelar a localização do esconderijo.
Francisca ficava sozinha em casa, aflita pela movimentação dos revolucionários, mas em muitas noites sua cunhada lhe fazia companhia. Mesmo assim foram muitas noites mal dormidas.
Mas é certo que nem todos tiveram a mesma sorte, tendo muitos pertences perdidos. Foram poucos os que recuperavam, tendo maior sorte os que acompanhavam rumo a Lapa. Confirmamos também este drama no Livro São Bento do Passado. “O meu irmão Antonio ficou sem cavalo algum, mas, erradamente, permaneceu em casa. Encontrei-o, um dia, chorando, no meio de sua grande família, com dezoito filhos vivos. Os cavalos, que se foram, eram toda a sua fortuna”. (ZIPPERER, 1954).
Esconder a criação, bois e cavalos, ou ainda se afugentar no mato não é nenhuma situação embaraçosa ou de vergonha, haja vista as perdas que certamente teriam, tanto pelos bens materiais, bem como pela própria vida. As forças federalistas estavam dispostas a  tudo, com homens bons, é claro, mas  outros sem dignidade. De exemplo podemos transcrever o comentário de Félix Heinzelmann “A um italiano, que por inimigos foram denunciados como espião, foi furado o pescoço e passado uma corda, pela qual foi arrastado por um cavalo por um grande trecho. Depois, cortaram-lhe o nariz e as orelhas, mãos e pés e, por fim serraram-lhe o pescoço com ripas de bambu. Dois blumenauenses que foram apanhados no mato, foram torturados desumanamente e depois jogados na fogueira onde foram queimados lentamente. Tais atrocidades mais tarde se repetiam seguidamente no Paraná, atingindo gente inocente, soldados e oficiais aprisionados.” (SILVA, 2002)
Na entrada dos revoltosos na cidade de São Bento, ocorre a única opção os colonos que tentavam se proteger com o que dispunham em suas mãos: armas de caça, machado, foice, etc. Estavam muito confiantes, pois anteriormente fizeram treinamentos e estavam sob o comando de Goll. A “recepção” conturbada e de postura estranha, fez parecer as tropas revolucionarias atitudes suspeitas e de uma ação mal interpretada causada por Goll e sua espada. Deflagra-se a reação dos revoltosos que entre os tiros que desferem, pelo menos um disparo contra o aglomerado de civis atinge um morador de nome Koehler, que nada tinha a haver com os acontecimentos.
A difícil comunicação poderia gerar maiores transtornos. Então os revolucionários foram recebidos pelo João Filgueiras de Camargo. “Deve-se ao coronel Filgueiras, chefe federalista em nosso Município, que aquele dia trágico não fosse de conseqüências ainda mais funestas. Explicou ao comandante da coluna revolucionária, que aquela formação de homens aramados não tinha outra finalidade, senão a de proteger São Bento contra os bandoleiros, que despontavam na esteira do movimento sedicioso e nada tinha a ver com um outro partido em luta”. Qual não teria sido o fim daquele dia inglório, se o coronel Filgueiras não nos tivesse tomado sob guarda e proteção”. (ZIPPERER, 1954).
 “No entanto, o grande símbolo republicano de São Bento foi, sem a menor dúvida, João Filgueiras de Camargo, uma figura incomum de homem lutador, destemido, uma espécie de Rodrigo Cambrará da saga de Érico Verissimo, sempre pronto para dar sua vida por seus ideais. Na Revolução Federalista de 1893/94, optou pelos federalistas. Organizou, com seu prestígio e sua capacidade de liderança, um batalhão que comandou no cerco da Lapa, onde impressionou pela sua bravura. Com a vitória da ditadura do Marechal Floriano, foi acusado de anti-republicano, logo ele, que fora pioneiro do republicanismo em São Bento. (VASCONCELLOS, 1991).
Teatro São João. Lapa 07/2007.
 Na revolução utilizado como enfermaria(Marcelo Hübel)
Os vários destacamentos revolucionários cercaram e sitiaram a Lapa a partir de janeiro de 1894, com mais de 3 mil homens, maragatos, sem preparo, mas conjunturados no fervor do ideal, e não temiam mais de dois dias de resistência. Os republicanos representados pelas forças militares e patriotas com aproximadamente 700 homens resistiam, estes chefiados pelo então coronel Antônio Ernesto Gomes Carneiro, um mineiro, veterano da Guerra do Paraguai, um "Voluntário da Pátria", que ficaria na história como o intrépido e valente General Carneiro, herói que lutou honrosamente ao lado de outros gloriosos combatentes:  Tenente Coronel Joaquim Rezende Correa Lacerda; Coronel. José Aminthas da Costa Barros; Coronel Cândido Dulcídio Pereira, entre outros.
 Entre os federalistas temos um destaque importante de um “filho sãobentense”. O Dr. Felippe Maria Wolff teve fundamental participação na revolução atuando com muito trabalho e dedicação. É impressionante e muito rico seu diário que relata desde os primeiros eventos, os combates do Rio da Várzea e o Cerco na Lapa. Anotava os atendimentos aos pacientes nas mais distintas aberrações provocadas pela revolução, e suas percepções, e inquietações como no relato de sentimentos de saudades pela família, os sonhos que tinha a noite, o estado deplorável das condições impostas pela precariedade do lugar, o próprio desenvolver da revolução ou ainda o relapso da equipe que muitas vezes o deixavam sozinho. Sobre tudo  é um diário cheio de informações que revelam um pouco da própria personalidade de Wolff e a tragédia que foi esta revolução. Do qual vejo por necessidade da percepção da batalha, sem muito escolher, expor alguns dias deste vasto diário que inicia no dia 31 de outubro de 1893 até 8 de março de 1894.A tradução do diário foi feita pelo Dr. Godofredo Guilherme Lutz Luce, médico alemão, que foi preso em Joinville em 1944, suspeito de ser nazista. Também Francisco Brito de Lacerda transcreveu a tradução, baseado nas evidências, tal qual Dr. Godofredo, mas corrigindo a ortografia e concordância, sem perder a originalidade, expondo de forma mais clara a própria veracidade.

(Diário Dr. Felippe Maria Wolff) “16 de janeiro, terça.

Cedo, cinco horas, começam os canhonaços e depois a fuzilaria. Os federalistas, durante o dia de ontem e a noite, contornaram a cidade por dois lados e avançaram para o lado Oeste sobre o Sul, concentrando-se de tal maneira que a Lapa ficou dentro de uma meia elipse. O fogo mais forte vem do Norte (Cemitério) e da elevação oriental. Chovem regularmente balas de espingarda e somente com perigo de vida é possível arriscar-se fora de casa. Os canhões arremessam balas para dentro da cidade. Cada dois ou três minutos um tiro. Isso continuou até o meio-dia, depois os federalistas recuaram. Mas até as sete horas ouviam-se, de tempos em tempos, fuzilarias isoladas e descargas de artilharia. A cidade está completamente rodeada de trincheiras. Balas isoladas alcançam e perfuram as janelas e portas, as granadas furam as paredes e fazem alguns telhados em pedaços. Apareceram alguns feridos, entre os quais Antonio de Oliveira (fratura de fêmur) e Antonio Saturnino (arma de fogo) e outros.”(tradução Francisco Brito de Lacerda)

(Diário Dr. Felippe Maria Wolff) “22 de janeiro

Feridos

*Antonio Francisco Jesus. Entrada ao lado testículo esquerdo, lado esquerdo do Pênis roçado, a bala se assentou dentro da nádega esquerda (casa particular).


*Antonio Alves Pinto (hospital). Entrada a esquerda um pouco para cima do umbigo, aqui prolapso do epilon saia nas costas por cima do rim. Faleceu às 3 horas cedo em 23.

*João Laurenzo Branco, federalista de Lages, a esquerda de atraz para frente o pulmão por tiro perfurador.

*João Laurenzo da luz. Mão esquerda perfurada por tiro.

*Francisco pereira. Na articulação do pé direito.

*George Frentop. Perna direita debaixo da articulação.

*Otto Reuter (Cabo) lado esquerdo costela pelo tiro raspado ricochetado a bala, arranhadura por arma de fogo do ombro esquerdo.

*Alferes Alberto Pollak. A bala entrou pelas costas saindo debaixo do braço esquerdo.

*Peri Constanti. Entrou debaixo da orelha esquerda saindo perto do olho direito.

*José Calistoda Silva machado. Na perna direita, lado exterior, a bala provavelmente ricocheteou.”

(tradução Dr. Godofredo Guilherme Lutz Luce, 1943)

Vestimenta militar.
Museu História da Lapa, 07/2007 

(Marcelo Hübel)
“As cinco da manhã, na própria casa em que reside, realizei uma pequena intervenção no Coronel Vilas Boas. O Coronel Carneiro me encarregou de adquiri tudo o que for necessário, sem considerar preços e independente de prévia autorização. Pouco depois que Carneiro se afastou (eu ainda me encontrava na casa de Vilas Boas), veio a notícia de que os federalistas estavam se aproximando com uma bandeira branca, com intenção de parlamentar. Carneiro respondeu que nada tinha a negociar com eles e fez disparos em direção aos emissários, que se retiraram. Ontem foram trazidos presos pai, filho e genro da família Badeiro. Visitei o filho, que estava doente, e dei-lhe remédio. Hoje ele esta melhor. As seis e meia começa um fogo terrível dos dois lados, primeiramente de canhões, durante mais ou menos uma hora, e depois fuzilaria. Os federalistas são temerários e incansáveis. As balas caem por todos os lados, derramam por toda parte seus estilhaços mortíferos, voam da esquerda, da direita, pelas travessas, pela frente, pelos lados e, nessa chuva de chumbo e ferro, preciso correr pela rua mais exposta, ao Sul, e pelo pátio, no lado da Igreja, par o hospital, onde já se encontram três pessoas gravemente feridas. Mal tinha eu acabado os curativos, fui chamado para uma outra casa, na Rua da Boa Vista, casa essa que ficava bem no meio do fogo federalista. Colado as paredes das casas e as cercas dos quintais (que pouco protegem), percorro a rua que é fechada pela trincheira ocidental, nos lados da estação ferroviária e da casa do Capitão Eufrásio. Nesse percurso, a intensidade das balas é menor. Em compensação, atas e a direita, enfrentei uma verdadeira saraivada até a Rua da Boa Vista, na esquina da casa dos Braga. Ali chegando, era preciso atravessar a rua, pela qual voavam metais mortíferos, como se estivesse saindo de chuveiro. Mediante alguns saltos, consegui atingir a porta da casa oposta, que estava aberta. O primeiro quarto estava cheio de mulheres e crianças medrosas. Também encontrei alguns homens, que se encontravam no meio das mulheres e crianças, não mostrando maior coragem. No segundo quarto, escuro como breu, encontro o ferido, felizmente apenas atingido levemente na coxa. A bala estava alojada na musculatura, embora um tanto profundamente. Fiz o curativo, deixando a extração da bala para depois, e mandei dar comida e vinho ao paciente. Em seguida, corri para o nosso hospital, na mesma rua, algumas casa para cima, com a intenção de procurar fios para curativos e iodofórmio. Mas também lá, quase sem intervalo, me chamam a casa do Coronel Vilas Boas. Agora eu precisava, subindo, percorrer em todo o seu comprimento esta rua horrenda, com o fogo do inimigo pelas minhas costas, de nada adiantando apertar-me contra a parede das casas. As balas se cravavam nas janela, roçavam nas paredes e demoliam parte das janelas e das paredes, em ambos os lados da rua. O caminho estava deserto, evidentemente, ninguém se arriscava a aparecer nas janelas. Quando cheguei na casa de Vilas, já não encontrei ninguém tinham levado o ferido por outro caminho ao hospital e eu precisava percorrer a cidade outra vez, porém em sentido inverso (do Norte para o Sul) a fim de voltar ao hospital. Quando atingi a rua em frente a casa de Joaquim Lacerda, próximo ao pátio da Igreja, o qual eu devia atravessar, as balas voavam ao meu encontro as dúzias, enquanto a minha esquerda na casa da esquina da rua com o pátio, uma granada caiu, passou pelo telhado e destruiu uma parte da parede, arrombando-ª Imagino o que poderia acontecer dentro da casa, mas felizmente nenhuma pessoa se encontrava lá. Aos saltos, passei pelo pátio e, mal atingi a porta, outra granada atingiu o local, lançando em seu redor vários estilhaços. Foram trazidos ao hospital dez feridos e dois mortos. Com dois alemães que me serviam de ajudantes (dos brasileiros eu não poderia tirar grande proveito), mantive atividade ininterrupta a fazer curativos, e os outros médicos não apareceram para me ajudar. Quando estava encerrando meu trabalho, as nove horas da noite (a luta terminara as cinco), fui a casa de Vilas Boas. Já era muito escuro e nuvens ameaçadoras cobriam o céu. No caminho Carneiro veio ao meu encontro e, não obstante a escuridão, reconheceu-me, enquanto eu não o reconhecia. Indagou-me sobre o estado dos ferido e as condições do hospital e reiterou o que já uma vez tinha dito: que devia fazer tudo pelo hospital, custasse o que custasse, dando-me carta branca. Depois de visitar Vilas Boas, fui mais uma vez ao hospital e finalmente dirigi-me a casa de Lacerda a fim de atender Teodoro.”

(Diário Dr. Felippe Maria Wolff) “23 de janeiro, terça.
As cinco horas da manhã, cheguei ao hospital. Um dos feridos, Antonio Alves Pinto, com um tiro que atravessara o baixo ventre, havia falecido de peritonite. Comecei logo a fazer os curativos e a operar. As sete horas, chega Carneiro e faz um escândalo infernal com o enfermeiro e pelo motivo, eu presumia, de ninguém ter estado presente na hora da morte. Nós ainda não tínhamos tido tempo de cuidar do cadáver, pois os vivos prevalecem sobre os mortos nessas horas. As mão do morto não tinham sido cruzadas sobre o peito, junto com uma vela e essas coisas. Vendo o morto na mesma posição em que expirara, Carneiro teve um acesso de ira e proferiu insultos próprios de homem não muito ilustre, embora eu não ponha dúvida na sua coragem e honestidade.
Trabalhei no hospital até nove e meia da noite. Depois do almoço, visitei Vilas Boas e a cadeia, retornando ao hospital. Estive também na casa de Germano Ehlke, recomendados aos carroceiros que levassem minha mala e outros pertences a casa Lacerda, onde estava Teodoro. Este extravagantemente, insistiu em ir jantar no hospital. Enquanto jantávamos, recomeçou o bombardeio violento a cidade. A primeira granada explodiu na casa do Dr. Pacheco, que é contígua ao hospital. Em seguida, veio forte fogo de artilharia de ambos os lados, durante cerca de sete horas.” (tradução Francisco Brito de Lacerda).

O cerco vai fechando e a Lapa é palco das cenas mais dantescas que se podem imaginar. Os revolucionários Maragatos que haviam tomado o Cemitério não permitem outra opção e os assoalhos da Igreja são arrancados e os corpos ali enterrados. A quantidade de pessoas mortas e feridas é grande. O Teatro São João se transforma em enfermaria.
Local onde o General Carneiro faleceu.
Museu História da Lapa 07/2007
(Marcelo Hübel)
 Na Lapa não existiam mais remédios, comida e munição. A chuva aliada do mau tempo cortou a comunicação. A rua Boa Vista foi tomada (Atual Barão do Rio Branco).  O General Carneiro resistiu bravamente  ao ataque dos Maragatos, quando em plena rua  ao tentar proteger um tenente,  levou um tiro no estômago e fígado. Mesmo baleado em batalha, motivou a tropa na resistência e luta “Resistência, resistência”. O General foi levado até uma residência ao lado do teatro São João, onde ainda passa ordens de bravura “Resistamos camaradas, porque nós, soldados, não temos direitos, mas apenas deveres a cumprir, e os deveres de um soldado resumem-se em um único, queimar o último cartucho e depois morrer”. Sua morte ocorre no dia 9 de fevereiro de l894, precedia o término da revolução.

(Diário Dr. Felippe Maria Wolff)“7 de fevereiro, quarta-feira de cinzas.

Já de manha desatou o furor. Era o assalto geral e final. Não é possível expressar como foi a luta nas barricadas,. Carneiro foi ferido as dês horas, atingido no fígado e Dulcídio talvez uma hora antes. Dei assistência a Dulcídio que foi transportado para a casa do  Coronel Lacerda. Ferimento por arma de fogo na região hipogástrica, hérnia peritoneal. Ao meio-dia, o fogo cessou. Carneiro está sendo atendido pelo Dr. João Cândido, sendo acamado na casa de Pedro Fortunato, ao lado do Teatro São João, onde João Cândido e família tinham se refugiado desde o amanhecer. A casa do Dr. Cândido, na Rua das Tropas, foi tomada pelos federalistas. A farmácia de Olimpio Westphalen está praticamente destruída. Lebon Régis ferido. Muitos feridos e mortos. Tratei de cinqüenta e oito feridos, quarenta e seis dos quais gravemente. Quatro faleceram e dois foram removidos para o Teatro. Fiz três visitas a Dulcídio. .”( tradução Francisco Brito de Lacerda)

 A batalha cessou, capitulou, assinando a rendição na Casa Lacerda.  “A Casa Lacerda é um exemplo de arquitetura do século XIX. Durante o Cerco da Lapa, foi sede do Quartel General da 2ª Brigada. Destaca-se pelo fato de ter sido ali assinada, em 11 de fevereiro de 1894, na sala de visitas, a ata da Capitulação da Praça de Guerra com os dizeres: “forma heróica porque se rendeu a praça, rendendo-se apenas por circunstâncias especiais supervenientes”. A retirada das tropas dos Maragatos foi melancólica, e voltaram em longa e sofrida caminhada. A república estava salva. Termina um dos maiores feitos cívico e militar da história do Brasil.
“A 8 de maio de 1894, Wolff finalmente conseguiu deixar a Lapa, levando de trem, para Curitiba, os doentes remanescentes de sua enfermaria, onde os entregou ao Dr. Ângelo Dourado.” (VASCONCELLOS, 1991).
Casa Lacerda, Lapa 07/2007(Marcelo Hübel)
Mas a data de termino da batalha em campo e a assinatura da rendição não são o fim deste árduo sofrimento. Em São Bento muitos eventos ainda seguiram de ações intimidatórias, e conseqüências desagradáveis e até mesmo trágicas.   “Se bem que a revolução terminada, mas por muitos anos ficaram os ressentimentos entre as diversas famílias que tinham tomado partido de um ou outro lado”. (ZIPPERER, 1954).

A campanha federalista durou 14 meses e 13 dias e a marcha percorrida pelos revoltosos, em combates incessantes, foi de 2.500Km. (MILCZEWSKI - 1994)
“O feito e a proeza dos bravos da Lapa trouxe dias de luto e de heroísmo, horas lentas de agonia e bravura, momentos de esperança e desalento. Foi uma odisseia de dor a confundir-se com uma epopeia escrita com sangue. Espetáculo horrível e belo! Horrível, porque eram todos irmãos e de todos os lados espadanava rubro e espumante o sangue brasileiro. Era belo, porque um punhado de bravos se debatia em nome da lei e fazia recuar a falange poderosa”.(João Cândido Ferreira).
Mas ficaram para trás as trágicas lembranças da Lapa, com as casas retalhadas de projeteis, das munições. As casas são restauradas, mas as gerações continuam marcadas pelas cenas deploráveis e dantescas das degolas, fuzilamentos, extorsões, etc.



DORES DE UMA REVOLUÇÃO


        A revolução passou de forma tão conturbada no Planalto Norte Catarinense que não provocou perdas materiais aos Fragoso, embora tiveram uma triste notícia.
Manoel Pereira de Oliveira, conhecido por Neco, único irmão de Francisca, esposa de Virgínio, era casado com Anna, carinhosamente chamada de Nhá Ninha. Este casal teve uma filha. Ele gostava muito de tocar violão e improvisava alguns versos para cantar. Mas costumeiramente repetia o mesmo verso.


"Quando eu morrer,
não me enterrem no sagrado,
me enterrem no campo bruto,
aonde for pasto de gado".

Quando Anna ouvia o canto, ficava brava. Ela acreditava que cantando este triste verso poderia estar atraindo coisa ruim. Mas Manoel achava graça e revidava animado.

"Ainda depois de morto
Debaixo do frio chão
Acharas teu nome de Anna
Dentro do meu coração".

Manoel foi para Lapa participar da Revolução Federalista, deixando todos aflitos pelo seu retorno.
De arma em punho foi defender os ideais da revolução em honra a Pátria. Mas num momento infeliz, entre seus companheiros, Manoel foi surpreendido por um tiro que lhe atingiu em cheio a testa, caindo morto no mesmo instante. Seu corpo permaneceu estirado no campo de batalha por três dias, e quando num intervalo, cessou o ataque foi enterrado. Fizeram uma cova rasa e enterraram ele ali mesmo, onde havia caído. Os versos cessaram, mas de forma trágica, deixando a família abalada. Suas canções pareciam se completar com a realidade, conforme a superstição de sua esposa.

"...me enterrem no campo bruto
aonde for pasto de gado."

Teatro São João, Lapa 07/2007(Marcelo Hübel)

Residência onde o General Carneiro foi levado depois de baleado. Museu História da Lapa, 07/2007 (Marcelo Hübel)

Museu das Armas, Lapa 07/2007. Na revolução improvisação do hospital. (Marcelo Hübel)


Igreja Matriz de Santo Antônio, Lapa 07/2007. 
Na revolução utilizada na improvisação de cemitério. (Marcelo Hübel)



SÃO BENTO DEPOIS DA REVOLUÇÃO

No término da revolução, Joinville se preparava de uma provável invasão federalista com possível vingança aos apoiadores da República, seguidos de saques e delinqüências e morte. Fato curioso que São Bento ficaria também com reforços devido a algumas manifestações que já haviam perturbado a cidade, ficando então a proteção do 23º batalhão agora republicano, conforme relatado pelo comandante dos bombeiros Félix Hermann Friedrich Karl Heinzelmann “Esses soldados do 23º batalhão, o mesmo que antigamente era comandado pelo coronel Piragibe e que, no Rio, participou de todas as lutas. Os soldados tem um bom comportamento, muito diferente daquele de muitos dos destacamentos do exército brasileiro que aqui passaram.”
Portanto o Batalhão 23º com uma metralhadora, também fazia parte do comando Piragibe que provocou tanto medo e alvoroço em São Bento quando da entrada dos revolucionários.
“Os batalhões eram compostos por 50 homens. O primeiro era composto por soldados da marinha, toda a gente preta e muito desarranjada, em parte descalços. O segundo eram soldados da polícia de Desterro que estava melhor arrumado. Depois vieram as tropas de linha que estiveram aqui, do 17º e 23º Batalhões que se passaram para o lado dos revolucionários. Então passou um grupo composto principalmente de brasileiros, poloneses, mulatos e alemães capturados (“recrutados”). Esta gente se achava muito deprimida e voltaram as vistas algumas vezes para o nosso lado. Agora seguiam o batalhão patriótico que se tinha constituído em Desterro.” (SILVA 2002).
Durante o estabelecimento das tropas em São Bento, segue curioso envolvimento dos soldados com a família de Josef Zipperer. “Ao 23º Batalhão, que mencionei, forneci durante um mês, o rancho aos soldados e subalternos, no meu salão de bailes. Era eu o único, que dispunha de caldeirões suficientemente grandes, para cozinhar o feijão e o arroz para tanta gente. Recebiam pela manhã café com pão; almoço feijão e arroz com carne seca e o mesmo prato a tarde. Eram baianos e sofriam muito com o frio do inverno daquele ano. Mostravam-se bem disciplinados e nada ocorreu de anormal em São Bento, durante a sua estada em nosso meio. Tomaram-se de carinhos pelas crianças e o tradutor desta lembra-se um corneteiro, de nome Laurentino, que tinha especial afeição, até lhe permitindo que experimentasse tocar a corneta. Ao se retirar o batalhão de São Bento, o corneteiro o presenteou com um boneco, que por muitos anos ficou sendo o seu brinquedo preferido.” (ZIPPERER, 1954).
Grandes líderes políticos de São Bento tomaram posição frente a Revolução Federalista, e depois de findar este triste episódio da história, São Bento passou por momentos de instabilidade  entre os rivais políticos. A morte de dois federalistas, colocou em dúvida a causa e os possíveis envolvidos. Primeiramente em 1896 a morte trágica de João Filgueiras de Camargo. “Na sua casa, sita ao lado da ponte sobre o Rio Negro, o antigo chefe federalista, político, e pessoa lautamente apreciada, Sr. João Filgueiras de Camargo, foi morto traiçoeiramente quando sentado no lado de uma fogueira, no rancho anexo a sua casa. O tiro fatal veio da escuridão a queima-roupa e atingiu o Sr. Camargo pelas costas, prostando-o sem vida. Aconteceu o assassinato no dia 25 de maio, Ás 9 horas da noite, sem que a polícia, no dia seguinte, encontrasse vestígio do criminoso. Já no dia seguinte ficou provado que não se tratava de crime político e sim de uma vingança particular, em conseqüência de “cherchez la femme”. João Filgueiras de Camargo foi homem muito estimado, apesar das suas atividades federalistas durante a Revolução, e muitos choraram o fim trágico que teve. A 21 de julho a viúva acusou formalmente, no processo criminal instaurado, um seu parente, João Elias Fragoso, como autor do assassinato, membro da Câmara Municipal de Campo Alegre.” (FICKER, 1973). Define-se, portanto em pronúncia francesa, que para todos assuntos, ou particularmente para esta situação é necessário verificar se não há nenhuma mulher envolvida.
João Elias Fragoso era filho de José Soares Fragoso e Rosa Calistro Camargo, natural do Paraná, mas residente em Fragosos, distrito de São Bento. Casado com Maria Joaquina da Rocha, filha de Candido José Camargo e Maria da Rocha.
Mas João Filgueiras de Camargo não foi o único a ser assassinado. Poucos meses depois outro simpatizante federalista é morto, agora Alberto Malschitzky, sendo assassinado em sua própria residência, com um tiro que passou pela janela. Ocorreram sucessivas repercussões deste ocorrido com tumultuadas ações que envolviam testemunhas, e a acusação de diversas pessoas envolvidas com o crime, que sucumbiam ser deflagrados por interesses políticos. Muitas inverdades foram profanadas e especulações rondavam uma grande trama, mas com o “Art.294_1 do Código criminal. O Juiz de Direito suplente, Francisco Antonio Maximiano, pronunciou somente o Capitão Dias, despronunciando, porém Bueno Franco e João Elias.” (FICKER, 1973).
Panteon dos Heroes, Lapa, 07/2007, 
mantém os restos mortais dos bravos
 militares da revolução. (Marcelo Hübel)

Interessante ainda reforçar o registro no livro “São Bento Cousas do Nosso Tempo”. “Em 1896 foi assassinado, por motivos pessoais, como ficaria provado o “caudilho” João Filgueiras de Camargo, líder na região de Fragosos e Mato Preto e o mais acirrado inimigo de Wolff. Por outro lado, o poder político de São Bento caiu nas mãos de Manoel Gomes Tavares...”(VASCONCELOS et al, 1991).








Fonte: Livro "PIONEIROS" Autor: Marcelo Hübel



segunda-feira, 20 de maio de 2013

GENEALOGIA - Pioneiros



GENEALOGIA 
O início de sua história

Imagino que o fortalecimento da humanidade contemporânea vem em parte pela contribuição, e somatório daqueles que buscam pelo passado e pelas pessoas que atualmente representamos, são pesquisadores, pessoas de bem e de respeito, preocupados em entender uma relação do antes e do agora, na compreensão da própria existência, são estas as primeiras pessoas que fogem do egocentrismo e entendem a socialização, no sentido de valor igualitário.
Resgatar a própria identidade no envolvimento da reconstituição do passado, de outras gerações é compreender, o envolvimento de outras épocas, e situações diferentes que no pensamento beira a própria filosofia do existir. A reconstituição da genealogia vem sendo uma atividade crescente nos últimos anos, desempenhada não apenas pelos historiadores, mas em grande maioria, por leigos que procuram pelas origens de suas famílias.
Ao montar a genealogia não se deve cair na tentação da valorização extrema e particular do próprio sobrenome, ao qual somos eminentemente tendenciosos. Supondo ainda que não tivéssemos este desprendimento de visão podemos fazer uma comparação: deve-se considerar que temos 4 avós, 8 bisavós, 16 trisavôs, 32 tetravôs, 64 pentavôs,  e assim sucessivamente, ficando portanto evidente a ampla ascendência. Não somos um nome, não nos revelamos na importância de uma única “linhagem”, mesmo que significativa, mas somos integrantes de reações complexas, ou ainda diria, sínteses relativamente elaboradas.
Sendo importante diagnosticar que nossa formação é uma combinação de genes que perdura dos tempos mais longínquos, milhões de anos, derivando de um ancestral, e que neste regresso por gerações entendesse que a igualdade do DNA nos mostra evidentemente a similaridade entre os povos dos diferentes continentes. Numa amplitude maior imaginando a própria origem, nossa existência se justifica num único entender. Somos apenas um ser e sem distinções. Quem dera se as pessoas associassem esta situação real, e não perdurasse o racismo, este espectro degenerativo da sociedade.

No estudo da genealogia se compreende que a evolução no sentido biológico é definida como mudança, enquanto e evolução para filosofia é a definição de melhoria, mas ambas ciências se misturam, e nos direcionam a entender estes coadjuvantes freqüentemente vinculados na história.
Portanto quando se estuda a genealogia, também se envolvem outras situações que não somente de interpretação biológica, se resgata a integração com a história e a percepção de que as famílias não podem ser observadas separadamente, mas são importantes quando tratadas no somatório, na evidência de diferentes manifestações e expressões culturais, tão ricas e importantes, que são parte da formação da sociedade, pujante na formação sólida da civilização.                   Este entendimento realmente é evidente quando feita a pesquisa da genealogia, sendo um  regresso para o passado, que deve ter importância não somente na busca de figuras históricas, nobres ou de ilustres antepassados, mas também daqueles que passaram à margem da “Grande História”. São as pessoas simples, os antepassados mais humildes, que se tornam grandes personagens e de relevante importância. E repentinamente nos vem muitos questionamentos. Afinal quem eram, como viviam, o que faziam, quais suas pretensões?

A procura constante de familiares em registros guardados em casas paroquiais, arquivos históricos e cartórios nos trazem revelações surpreendentes. A empolgação cresce ainda mais ao conseguirmos resgatar uma foto e, intuitivamente, buscar naquela imagem características hereditárias, traços étnicos. E, conforme aumenta a amplitude da pesquisa, abre-se um leque ainda maior de possibilidades de investigação: a procura de pertences pessoais, casos de gêmeos, doenças cromossômicas e justificativas de falecimento.
Mas a pesquisa não envolve apenas a hereditariedade, fotos, nomes ou documentos. A cada passo ocorre um envolvimento mais familiar, direcionando a atenção em descobrir um pouco a mais da nossa história individual. É nessa oportunidade que é desvendado um mundo completamente diferente. A curiosidade da história não deve residir apenas no “onde nasceu” e “como morreu” de nossos antepassados, mas nos usos e costumes únicos de um tempo que não mais retornará.
Cada povo vive seu cotidiano com um jeito próprio de ser e interagir. Ocorrem mudanças significativas no dia a dia das pessoas. Não é possível dizer até que ponto as mudanças ocorrem para uma situação de melhoria ou de estagnação e perda de valores e conceitos. Somos coadjuvantes da transformação, respondemos por estímulos e sensações do desenvolvimento intelectual e comportamental.
Claramente diferenciamos o passado do presente, ou deveria chamar de futuro, pelo avanço da tecnologia, da ciência, da melhoria pela qualidade de vida. A busca contínua pelas condições adequadas de equilíbrio econômico, social e ambiental que geram transformações separando o atual do passado. Mas o propósito de caminhar para o melhor deve ser percorrido junto com o estudo das situações vividas anteriormente, do quanto que podemos aproveitar do passado, tanto observando seus erros como seus grandes feitos, e assim embasar o bem estar atual com atitudes coerentes.


Não é possível nos furtarmos do passado. A história é um campo vasto de conhecimento, e o somatório desse aprendizado pode influir diretamente no potencial de cada pessoa.
A principal motivação de todas as espécies é a contínua transmissão do DNA, ou seja, garantir a existência de outra geração pela continuidade da vida. Na espécie humana, mesmo quem não tem condições de ter filhos, por razões pessoais ou biológicas, intuitivamente cuida e zela pelos familiares mais próximos como forma de garantir a perpetuidade dos genes da família. Mas a raça humana diferencia-se das outras espécies por motivações outras que apenas a transmissão de sua carga genética. Ao longo de nossa história perfizemos um caminho trilhado por séculos de transformações sociais e culturais, com alterações de usos e costumes em proporções fantásticas. Seria um descaso com a história resguardar o conhecimento adquirido para satisfação pessoal. Alguns dos maiores prazeres de nossa existência estão diretamente relacionados com o gosto do redescobrimento.
Assim, deixo neste livro a representação de uma época que se inicia com os primeiros pioneiros do Planalto Norte Catarinense e Sudeste do Paraná, revelando situações pitorescas de um tempo distante e mostrando um pouco do cotidiano de pessoas que já passaram, mas que fizeram de nossa existência, hoje, testemunho de seu esforço para o progresso da terra em que escolheram viver.

FONTE: Livro "PIONEIROS". Autor Marcelo Hübel

São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre e Piên